A Mansão Mal Assombrada
De uns tempos pra cá, comecei a jogar coisas fora e a doar coisas que não me serviam, mas serviriam para outras pessoas.
É um trabalho de desapego que a menina, que foi filha única por tanto tempo e sempre teve as SUAS coisas, está aprendendo aos poucos. Ainda falta muito, nossa, estou longe de ser uma pessoa genuinamente altruísta, mas um salto enorme já foi dado, principalmente porque minha casa continua cheia de tralhas e revistas e roupas que não uso – mas, à medida que vou me desfazendo das coisas inúteis, vou descobrindo cantinhos que não conhecia – e notando que não preciso deles.
O problema é que minha noção de espaço mudou.
De repente meu quarto-e-sala, que sempre pareceu na medida certa pras minhas necessidades, me parece grande demais. Tudo me assusta: o pé direito alto, o corredor da entrada, longe do meu campo de visão, no cantinho da sala; os armários altos e fundos, de madeira escura; as enormes janelas do quarto que me deixam ver o bairro quase inteiro. Os barulhos, torneira, vento na janela, morcegos na rua quando esquenta, cupins em ação. Fico com medo de apagar a luz da sala e me descobrir sozinha aqui dentro (bem dentro mesmo); medo de ir à cozinha; pa-vor de ir à cozinha. De deixar a janela aberta à noite. Como assim? Eu nunca tive dessas frescuras!
Então vi também que minha casa, sozinha, não me aconchegava mais. Ela é pequena, sim, mas grande demais pra uma pessoa só. Talvez até caibam três, se uma for bem pequenininha. Desde que preencham todos os cantos (principalmente os de dentro, os MEUS cantos vazios), faça(m) barulho, marque(m) presença, seja(m) dono(s) do espaço junto comigo. E, de preferência, que espantem fantasmas.
* * *
To do list
1- Domar meu egoísmo de décadas de ‘meu, meu, só meu’. Ok
2- Domar meus medos e inseguranças e me tornar alguém legal de se conviver com (eu sei. tá errado. eu sei que não se termina frase com preposição e sei usar ‘cujo’, ‘do qual’, ‘de quem’, ok?).
* * *
Só que algo me diz que domar esses medos ainda vai demorar um cadinho – e quanto mais demora, mais tenho medo de que isso não vá acontecer.
* * *
Se a vontade de comentar algo ou opinar for muito forte, comentem isso aqui, isto sim uma informação relevante, heh heh (cortesia da Aline, de novo):
“Radiohead Rorschach”
Foi assim: partindo do pressuposto de que não dá pra ter uma opinião imparcial acerca do som do Radiohead, uma vez que já fomos bombardeados com milhares de críticas e, a partir delas, formulamos nossa opinião (a minha se enquadra perfeitamente nesse caso – na época do Pablo Honey, persistia no fato de que ‘é uma banda mediana superestimada, longe de ser a salvação o rock, como pregam alguns’; agora, além de chatos, eles são mais incensados ainda, o que aumenta minha bronca particular com a banda – embora DUAS músicas se salvem, “Anyone can play guitar” e outra que não conheci ainda), uma professora de 5a série concordou com o seguinte experimento: botar crianças que nunca ouviram Radiohead na vida pra desenhar o que sentiam enquanto ouviam as lamúr.. opa, as canções de Thom Yorke e turminha. Só assim um opinião pura e genuína pode ser formada.
O resultado está aqui, acompanhado de relatos como:
“When Thom Yorke’s famously tortured croon first surfaces, the whole room starts giggling.
Giggling.

“For the first few songs, the kids hardly move, scarcely even changing facial expressions. One girl plants her head on her desk face-first. The “hold your head in your hands and look completely confused” look is extremely popular.”
“One kid starts scrawling a guitar; the girl next to him immediately begins copying — an apt metaphor for music criticism.”
(resumindo, acharam chato pra dedéu)
E desenhos retratando enforcados, suicidas (errr… isso mesmo), paisagens chuvosas, pessoas sofrendo no deserto e por aí vai. Confiram. É deveras curioso.

Deixe uma resposta