Faz algum tempo.. não muito, mas também não foi ontem.. deve fazer uns dois anos, dois anos e meio, que eu estava em Niterói, quando a casa da minha mãe ainda era minha casa. Eu estava indo pra casa quando, na minha rua – uma rua central de Icaraí -, passou um comboio desses de circo, com carros de som e carros-jaula, com animais.

(acho que vale lembrar aqui que eu só como carne quando não há outra alternativa de proteína no recinto, que demorei anos pra voltar a comer peixe depois do meu aquário dar cria, que eu sempre acho que os problemas do mundo devem ser resolvidos por mim, e que choro por nada..)

Então eu vi o elefante enjaulado, virando a esquina da Gavião Peixoto com a Cinco de Julho. Olhei praquele bicho grande, com aquela cara triste, e graças a deus que eu estava chegando em casa – porque desabei a chorar.

– Minha filha, você está bem?

– O.. sniiifff.. elefante..

– Brigou com seu namorado?

– UAAAAAAAAA!!! O elefante.. triste.. aí eu.. uaaaaaa!!!

– É tpm?

– Não.. (fungada).. é o.. o elefante!

Foi patético, eu sei disso. Eu tenho minhas cenas patéticas. Não tinha necessidade de tanto choro, mas ei, foi incontrolável. E, há dois ou três anos atrás, eu já era uma MOÇA. Não tinha mais o direito de fazer isso – mas não resisti e passei a tarde INTEIRA na cama chorando convulsivamente por causa do elefante. Quer mais? Até hoje lágrimas me vêm aos olhos quando lembro disso (e lágrimas pelo elefante, não lágrimas de constrangimento por mim mesma).

É reincidência, quando eu tinha 16 anos meu primeiro namorado me levou ao circo e eu abri o berreiro quando o domador de leões deu aquela chicotada do ladinho. Aquela que pega de raspão. Deus do céu, como eu amaldiçoei todos os domadores e quis que todos fossem engolidos num ritual macabro de vingança animal!

Mas nada me tocou tanto quanto aquela cara tristonha daquele bicho enorme. Porque a violência humana contra o próprio ser humano é imperdoável, mas se você tiver meios, você pode responder à altura. Muita gente NÃO PODE, mas se todos temos mais ou menos a mesma constituição física, se o mundo fosse justo o ser humano responderia às atrocidades de outro ser humano de igual para igual.

Mas se um elefante daquele tamanhão todo está preso, é porque houve um ato de covardia extremo e ele não pôde fazer nada, nem reagir (se eu fosse um elefante, enfiava a tromba no rabo do babaca que viesse de gracinha comigo). Deve ser humilhante pra um bicho daquele porte se submeter às chacotas vindas de míseros humanos, essa racinha patética que acha que pode tudo.

* * *

Então juntei a fome com a vontade de enfiar a tromba no rabo de muita gente, e resolvi celebrar com vocês o triunfo dos elefantes sobre os seres humanos – e, num ato de extremo altruísmo da minha parte, em vez de simplesmente falar que ‘tal banda é genial, procurem aí’ resolvi disponibilizar uma das músicas mais divertidas do Toy Dolls pra vocês baixarem, e verem como Toy Dolls é foda, e tudo o mais.

Pra quem ainda não sacou, a música é “Nellie The Elephant” e tem 2.8mb.

Porque, lógico, meu vexame no circo foi real e minha crise depressiva por causa do elefante também, minhas opiniões sobre os humanos são sinceras e tudo o mais. Mas confesso, estou aqui me abrindo com vocês porque estou ouvindo Toy Dolls sem parar.

A posologia é a seguinte: recomendo enfaticamente que a letra seja acompanhada num primeiro momento e, numa segunda audição, cantada alto. No terceiro momento, gostaria de saber que pessoas dançaram pulando pela sala durante o refrão, se divertiram e ficaram oito dias com o “ooooooooooOOOOOOOO” na cabeça.

A insurreição dos animais contra os domadores é apenas o próximo passo.

Eu gostaria que vocês convencessem todos os elefantes que conhecem de que a revolução se faz necessária (ouvindo Toy Dolls, sempre).

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