Economia verde: a experiência da Escandinávia, e o que podemos fazer por nós e pelo planeta


Estou fazendo um curso da Universidade de Lund, na Suécia, sobre Economia Sustentável. Não, o curso não ensina “como economizar reciclando garrafas pet e compostando lixo orgânico”, até porque os grandes emissores de poluentes são empresas, indústrias e agropecuária. Mas o curso dá um panorama da situação ambiental do planeta, e nos mostra a experiência da Escandinávia (Suécia, Noruega e Dinamarca) – a região é reconhecidamente uma das mais “verdes”, no sentido de “ecologicamente correto” do mundo, e ainda assim, mesmo cortando emissões de poluentes e investindo em infraestrutura cicloviária, consegue ter um alto índice de crescimento econômico.

Aliás: “mesmo cortando”, não. Justamente por investir em sustentabilidade ambiental, a região cresce. Porque você incentiva pesquisa e desenvolvimento. Porque as soluções energéticas encontradas são renováveis. Porque a população é mais saudável. Porque não se perde tanto tempo assim no trânsito, podendo usar esse tempo para outras coisas. Porque todos têm oportunidades iguais. E porque, por “economia verde”, entende-se não apenas a sustentabilidade ambiental, como o bem-estar do cidadão – incluindo o cidadão assalariado. Assim, processos de produção “verdes” também podem ser processos de produção sem trabalho escravo ou esquemas de trabalho indecentes. Imagino que as empresas escandinavas tratem seus funcionários bem. Mas se seu produto vem da China, abre o olho.

É claro que atitudes individuais são de suma importância, e que se cada um fizer sua parte, talvez seus netos tenham um planeta habitável. Mas a atitude individual também implica em consumir conscientemente, dando preferência a empresas com processos de produção sustentáveis, e pensar no coletivo. Sim. A cada vez que você pegar um carro para ir SOZINHO a algum lugar “porque é mais confortável do que de ônibus”, lembre-se do lixo de planeta que você vai deixar para seus netos por causa dessa atitude egoísta – você sabia que ser humano já ultrapassou alguns limites do planeta de forma irreversível?

É, usar transporte público é desconfortável, e nem sempre é o menor caminho entre dois pontos. Mas se você não usar, você nunca vai pressionar governos (em todas as esferas, tá? Não é só problema da presidência, não) por mudanças.

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Ah, mudanças.

Sim, é papel dos governos incentivar as empresas a reciclar seus lixos, a reaproveitar sua água e a tornar todo o processo de produção menos agressivo ao meio ambiente. Mas é sua responsabilidade pesquisar sobre coleta seletiva de lixo no seu bairro, pressionar sua prefeitura para implementar a coleta seletiva (caso não tenha) e separar seu lixo.

É papel dos governos cobrar – e cobrar caro – de quem polui. Mas é sua responsabilidade parar de consumir das empresas mais poluentes. E influenciar sua comunidade para que não consuma mais esses produtos. E se você não sabe quais são, é sua responsabilidade pesquisar.

É obrigação dos governos obrigar empresas a fornecer informações sobre seus processos de produção, para o consumidor decidir se quer ou não aquele produto. Mas é sua responsabilidade pesquisar, entrar em contato com o SAC, para elaborar decisões conscientes de consumo.

É obrigação dos governos estimular a pesquisa e o desenvolvimento de fontes alternativas de energia. Mas é sua responsabilidade economizar energia (e se puder economizar também gasolina no seu dia a dia, tanto melhor).

É papel dos governos estimular o transporte público e o uso seguro de bicicletas, e parar de abrir as pernas pra montadoras. Sério, isso é urgente. E você, cidadão, que não tem problema algum de mobilidade, mas não se sente seguro para pedalar nas ruas (as vias foram feitas para priorizar o transporte motorizado, e é por isso que o trânsito nas grandes cidades está entrando em colapso) pode fortalecer os movimentos de ciclistas; ou, melhor ainda, criar associações de PEDESTRES.

Com o surgimento dos carros, as pessoas descobriram que poderiam trabalhar longe de casa. E se as pessoas não precisassem ir para muito longe? E se cada município tivesse políticas de incentivo ao trabalho BEM REMUNERADO e ao empreendedorismo local? Já a sua responsabilidade, como consumidor, é de incentivar, sempre que possível, o produto ou serviço local.

Acho perfeitamente compreensível e aceitável que governos permitam que pessoas que antes viviam abaixo da linha da pobreza hoje possam comprar geladeira e computado. Mas é imperativo que se invista na economia do compartilhamento. E daí que o consumo de bens e serviços vai se retrair? A médio prazo, teremos uma sociedade melhor, e que usou menos recursos.

Sustentabilidade ambiental deveria ser matéria de (e praticada na) escola. Aulas de jardinagem, reciclagem e bicicleta (pra não crescer aquele adulto que acha que “pra bicicleta não tem essa de contramão, posso pedalar como eu quiser”). Se o governo estadual ou municipal não faz, a iniciativa pode ser sua, sabia? Duvido que uma escola vá negar se você se oferecer para dar uma palestra ou fizer uma dinâmica sobre bicicletas.

Ainda faltam três módulos.

Mas já entendi perfeitamente que é possível fazer aqui.

Falta apenas vontade política.

Mas isso vem com o tempo. A gente aprende.

Enquanto isso, o que podemos fazer é tomar decisões individuais sobre nossos próprios hábitos de consumo.

O que você está fazendo?

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Você conhece a Cristal Muniz?

Cristal resolveu documentar sua experiência de passar um ano sem produzir lixo, ou produzindo o mínimo possível. Ainda que você não possa adotar medidas tão radicais (nem todo mundo consegue montar composteira em casa, nem todo mundo tem tempo para fazer coisas em vez de comprar pronto), vale muito a pena acompanhar o site Um Ano Sem Lixo e refletir sobre o que você consome. Se conseguir mudar um pouquinho seus hábitos… já valeu a pena!

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