Em defesa da paleta mexicana


O raio gourmetizador atingiu praticamente TODAS as comidas: até o lanchinho mais fuleiro tem uma versão gourmet, com ingredientes diferenciados e pelo triplo do preço (não que esse preço seja justo). Claro que a gente reclama, sacaneia, fala mal – mas, verdade seja dita, a paleta mexicana (que é o novo temaki) não merece ser taxada de “a gourmetização do picolé”. Ela é simplesmente… um picolé.

Holy yum.

Foto por https://www.flickr.com/photos/ilovememphis/

– Mas por que tão caro?

A paleteria aqui da esquina cobra, no picolé mais básico, 7 pilas. Um Fruttare custa 3. Mas a paleta mexicana pesa 120g de pura alegria, com massa de polpa de manga e grãozinhos de pimenta rosa de verdade, contra 60g daquele refresco do Fruttare. Só pelo tamanho, já justificaria custar o dobro. O real excedente você põe na conta da picoleteria ter um ponto só pra isso e um esquema de distribuição muito mais modesto e em menor escala que as grandes empresas de sorvete.

– Mas eu li que não existe paleta mexicana no México

Existe sim. Só que lá TODO picolé se chama PALETA 😀
Tá, esses sabores tipo frutas vermelhas com recheio de leite condensado têm toda cara de ser invenção de brasileiro pra cobrar ainda mais caro, mas esse formato tijolo e a fabricação artesanal, com pedaçõs de fruta de verdade, são super comuns por lá. Também existe picolé tosqueira, claro.

– Mas por que chamar de “paleta mexicana”, se nada mais é do que um picolé artesanal?

Porque vem de “La Michoacana”, que é uma marca conhecida no México, originária da região de Michoacán. Se falar “paleta michoacana”, ninguém aqui vai associar. Chama tudo de paleta mexicana que a galera compra.
(aliás, gente, o caso La Michoacana é um caso de marketing do mundo bizarro, já viram? http://knowledge.wharton.upenn.edu/article/la-michoacana-the-story-of-an-orphaned-brand/)

– Mas não tem paleteria lá, né?

Olha, pode até ter, embora eu não tenha visto nenhuma loja especializada em picolés. Em geral, o que vi foram picolés vendidos em nieverias e heladerias – que é tudo sorveteria, mas o helado é o sorvete comum, cremoso, podendo levar leite, e a nieve é exclusivamente à base de água (sabores de frutas, por exemplo).

– Mas as paletas michoacanas no México custam baratésimo! A que chega aqui é gourmetizada, sim!

Não. Está havendo uma confusão no conceito de gourmetização. A paleta que chega aqui não é mais gostosa nem mais chique que o picolé mexicano. Os ingredientes lá, aliás, são até mais nobres (tem picolé de frutas pouco comuns, tem de mezcal e de tequila, tem fruta de verdade). O picolé mexicano vendido aqui não foi gourmetizado: ele é apenas MAIS CARO (e um pouco maior pra justificar o preço). Mas, como você leu lá em cima, está até dentro do padrão de preço nacional, se compararmos aos picolés comuns vendidos no boteco.

– Mas então… manga com pimenta?

Sim. Estive no México em março e tomei sorvetes incríveis: pisco, pepino com chilli, cheesecake (de verdade)… nham. A paleta nacional de manga com pimenta é delícia e é um tijolaço de sorvete. Pega super bem misturar doce com pimenta, de verdade. Melhor (e mais barato) do que esses com leite condensado e brigadeiro, adaptados pro paladar brasileiro viciado em açúcar. Quer dizer, TEM açúcar na de manga também. Mas a pimentinha dá uma quebrada, vai fundo.

Por último, um conselho de amiga: aproveite a moda das paleterias mexicanas antes que elas tenham o mesmo destino do frozen yogurt.

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