Ééé, enquanto o blog do Leopoldo é um blog com informações de vestibulando relacionadas a coisas-do-dia-a-dia rock (eu sou nerd, adoro ler aquilo), o meu hoje está altamente ‘aluno do Instituto de Arte e Comunicação Social’. Primeiro foi o lance do Pomo de Ouro. Agora tem mais essa bomba:

Você sabia que existe relação entre o Cinema Novo e a surf music instrumental?

Pois é. Tou ouvindo esse cd do The Shadows, “Out of the Shadows”, com gravações de 1962, primeiro as 13 faixas em mono, depois as mesmas faixas em estéreo (vocês querem que explique o processo aqui? Depois.), e tem essa ‘The Bandit’, uma das raras músicas cantadas do grupo.

Uma espécie de percussão mexicana e uma letra que, por causa da proximidade com os ritmos hispânicos, demorei bastante pra perceber que havia algo em português. O refrão? “Oleee I am a bandit/ the bandit of Brazil”

Tá aqui um trecho da letra, não dá pra tirar toda porque estou no trabalho:

“I’m the quickest on the trigger

when I shoot I shoot to kill

I’m a hero down in Rio

Where they talk about me still”


Só quando ele diz “Oleeee o Cangatcheeero”, com um sotaque esquisitíssimo, que fiz a ligação.

O Cangaceiro (“The Bandit”, em inglês), 1953, dirigido e escrito por Lima Barreto, com Alberto Ruschel, Marisa Prado e participação de Adoniran Barbosa, foi O marco inicial do movimento do Cinema Novo, antes mesmo do Cinema Novo virar um movimento – “Barravento”, o primeiro grande filme de Glauber Rocha, é de 62, e “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, só foi lançado em 63. “Deus e Diabo Na Terra do Sol” (de novo Glauber Rocha), que todo mundo acha que é O filme de cangaceiro mais importante, é de 64. “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, foi mesmo o pioneiro.

Tenho várias restrições ao Cinema Novo, aliás, ODEIO Cinema Novo, mas vocês hão de reconhecer que naquela época, início dos movimentos de contracultura (é muita coisa pra exlicar num só blog, eu juro que desenvolvo isso melhor), o Cinema Novo, junto com a Nouvelle Vague francesa, viraram os must-see dos intelectuais e universitários sessentistas pelo mundo todo, porque quebravam os padrões estéticos e narrativos impostos pelo cinemão norte-americano. E a melhor coisa dessa ‘Nova Onda’ (ó que curioso: New Wave e Nouvelle Vague são coisas completamente diferentes mas significam ‘Nova Onda’) foi o interesse criado pelo cinema que mostrava a cultura brasileira – ainda que totalmente estereotipada e deturpada pelas invenções estéticas na fotografia dos filmes – sabe que até hoje os franceses têm uma curiosidade mórbida sobre o Brasil, e costumam saber mais da história e folclore daqui do que qualquer nativo, né?

E os Shadows, em 62, pouco antes do culto europeu ao Cinema Novo, fizeram uma música mexicana sobre um filme brasileiro de 53, o que prova que surf music também é coisa de universitário intelectual estudante de comunicação e arte. Mas até então, ninguém sabia. Eu vim pra fazer a ponte entre os dois mundos, entende?

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