Dois de setembro de 2021. A humanidade vive uma pandemia sem precedentes na história do planeta – talvez dê para comparar à peste negra, mas pior – já que nossa tecnologia é avançada e ainda assim isso não acaba. Já estamos nessa situação desde março de 2020. Putaquepariu.
A chegada da vacina nos dá esperança de dias melhores, enquanto as pessoas que já estão vivendo como se não houvesse pandemia nos tiram totalmente a esperança no ser humano. Só saímos de casa usando máscaras para filtrar o ar (ou pelo menos nós, os otários preocupados com a transmissibilidade desse vírus, continuamos usando).
Temos um governo de… eu ia dizer “extrema direita”, mas está mais para direita histérica mesmo. Uma coisa parte teocracia conservadora, parte militarismo, parte Os Trapalhões. O que acontece no Brasil é tão surreal que não encontra paralelo nas ficções distópicas mais loucas. É nível “pastora deputada cantora manda matar marido”, “cantor sertanejo incita golpe” e “Felipe Neto vira voz sensata” pra baixo.
Mas as canções que ouvimos – sejam elas atuais, criadas como forma de resistência, sejam canções antigas que nos remetem a diferentes épocas e despertam diferentes emoções – nos dão força e esperança de dias melhores. Música tem esse poder, né? Tem sim.
Na véspera, havíamos recebido um teaser de algo relacionado ao ABBA. Seria um disco novo depois de 40 anos? Seria.
❤
Em 1978 eu nascia e o quarteto formado por Agnetha, Anni-Frid, Benny e Bjorn dominava as paradas de sucesso. Minha mãe tinha uns discos em vinil – que eu obviamente peguei pra mim – porque ABBA é bom demais. É o pop perfeito, tão moldado para o sucesso quanto artesanal. Tão perfeito que nada com maestria nas ondas da disco, do brega, do rock e do que mais você quiser. Cresci ouvindo em casa e tomei gosto – mesmo na minha época mais “grunge não dança”, ABBA tinha espaço. Daí você vê.
Pois bem: o teaser feito no dia primeiro era realmente um disco novo e uma turnê com hologramas. “Voyage”, oficialmente anunciado no último dia 2, tem uma vibe meio Tron, meio Mamma Mia. As tias fãs de pop (tipo eu e meus amigos, tudo na faixa dos 40 e tantos, já caracteriza “tiozão”, certo?) em polvorosa nas redes sociais. Eu nem sabia que tanta gente assim gostava de ABBA – ou será que foi mais pela onda da empolgação da velha guarda da internet? Bom, de qualquer forma, melhor ABBA do que o EP da ex-BBB que foi lançado no mesmo dia.
Without a song or a dance, what are we?
Não sei se estamos todos com as emoções à flor da pele depois de um ano e meio de confinamento (já flexibilizado mas ainda assim confinamento) – sei que a live de lançamento [ https://youtu.be/pJBGk9Hed8o ] quebrou a internet. Todos os sites de música deram suas versões do furo. Infelizmente não fui rápida o suficiente para dar meu parecer no dia da estreia, mas felizmente foda-se furo, não sou jornalista mesmo, deixa eu ouvir com calma, sem a Casa do Mickey Mouse rolando ao fundo.
(bom, vocês queriam furo? Todo mundo falou do lançamento, mas ninguém mencionou que o ABBA está no Tik Tok: www.tiktok.com/@abbavoyage)
Agora que o frisson do lançamento mais esperado do ano passou, vamos lá:
“I still have faith in you” é um ABBA perfeito: começa uma baladinha pop com a clássica fórmula solo + abertura de vozes numa harmonia tão próxima que a gente sabe que Frida e Agnetha não cantam em uníssono, mas não consegue distinguir quem é quem. Os timbres naturalmente mais graves do que nos anos 1970, mas tá tudo lá, aquelas vozes lindas. Então a música explode, os pelos do corpo arrepiam, o nó na garganta vem, e o clipe com várias imagens de arquivo só piora minha situação: perdi a dignidade no “We do have it in us”. “We have a story and it survived”, car@lho, posso dizer que cada fã de ABBA é um pouco responsável por manter isso vivo. Tô aqui emocionada real escrevendo pra vocês.
“I’m fired up, I’m hot, don’t shut me down” (é assim que me sinto agora)
“Don’t shut me down”, por sua vez, é mais animada – aquele baixo chacundum, piano, Frida e Agnetha em perfeita harmonia, corinho, um riff de teclado que parece… ABBA. “Don’t shut me down” é totalmente ABBA. Não me levem a mal, claro que é totalmente ABBA, mas depois de tanto tempo podia ser que soasse diferente. Não. Tá tudo lá, tudo o que a gente ama está em “Don’t shut me down”, fan service total. É como se uma equipe de cientistas analisasse estrutura, tempo, melodia e harmonias de “The Name of The Game”, “Thank you for the music” e “Super trouper”, juntasse os dados num supercomputador e daí surgisse a canção perfeita – que, apesar de parecer ser sobre uma pessoa que volta para casa mudada depois de um tempo difícil, pode ser sobre a própria volta do ABBA.
Ainda bem que são só duas faixas por enquanto. Mais do que isso e eu estaria totalmente entregue às emoções aqui.
Bom, tudo bem, o blog é meu mesmo.
Amo vocês. Mas amo ABBA mais. E thank you for the music, for giving it to me.