Oh no, oh no, oh no no no no


Quando eu era jovem (risos), meu pai dizia que “jovem acha que o mundo começou quando eles nasceram”. Meu pai não diz mais isso porque eu não sou mais jovem, mas agora sou eu que digo com propriedade.

Jovem não pesquisa gíria.

Sei disso porque eu não aprendo. Eu gosto de lançar treta na internet, e jovem adora discutir com “gente velha” como se soubesse de tudo. Eu sei, também já fui jovem.

O jovem de hoje, por exemplo, acha que “oh no, oh no, oh no no no no no no” é “a música dos trending do TikTok”.
Primeiro, que existe uma palavra em português chamada tendência.

Segundo que:

https://youtu.be/l97xELhvYBQ

eu já gostava de The Shangri-las antes de vocês nascerem.

Sim, resolvi escrever isso no blog porque um reel de 30 segundos com a dancinha do carpinteiro não ia dar conta. Talvez eu reative minha newsletter meu informativo por e-mail também. Talvez. Capone? Keppa? Sei nem quem são.

Não, The Shangri-las não é da minha época, já aviso logo. Mas lá pelos meus 12 anos de idade, em 1990, puxada pelo sucesso que os discos do Jive Bunny faziam nas festinhas “menino leva refrigerante, menina leva um prato de doce ou salgado”, eu comecei a gostar de umas coisas meio antigas. E como não tinha internet para pesquisar, e como eu tinha que me contentar com as lojas de discos perto de casa, eu me submetia a situações tipo pegar a mesada, ir na loja de discos que tinha do lado do Cinema 1, pedir um disco “anos 60, moço” e voltar pra casa com uma coletânea de rockabilly da Sun Records.

Obrigada, moço.

The Shangri-las estava em duas coletâneas de “anos 60”, desta vez anos 60 mesmo, que eu trouxe do passeio à Disney com meu avô. Numa delas estava a música cujo remix o jovem de hoje chama de “trending no TikTok”. Na outra, estava “Leader of the pack”:

https://youtu.be/5Ge8_6rtQvs

“Leader of the pack” é uma das coisas mais trágicas da música pop. Não sei se você prestou atenção, mas por trás das dancinhas e da voz maravilhosa da Mary Weiss tem uma história de um bad boy que tá lá badboyzando e morre num acidente de moto.

Oh no, oh no, oh no no no no no.

The Shangri-las durou pouco, pouquíssimo – de 1964 a 1968 – mas deixou vários sucessos, como “Give him a great big kiss”:

https://youtu.be/W0O6tabbjjk

A banda também deixou brigas judiciais, tretas com produtor e tretas que eu precisaria de um pouco mais de tempo para apurar, como os motivos que levaram Betty Weiss, irmã da Mary Weiss, a sair da banda – e aqui você pode ver Mary dublando com a voz da Betty, enquanto as maravilhosas Marge e Mary Ann Ganser seguram os backings lindamente:

https://youtu.be/thEKxFNCuT4


Ou, assunto super em voga hoje em dia, a falta de registro do nome da banda, que abriu caminho para umas minas se apresentarem como The Shangri-las nos anos 1990 – cantando as músicas do grupo original:

https://youtu.be/JQB8mYd-ozo (esse não tem embed do Youtube porque quem postou o vídeo não deixou incorporar. Fuén).

Moral da história: registre sua marca ou o nome da sua banda antes que outro o faça.

Mary Weiss está vivíssima e, depois de um tempo longe dos holofotes, andou dando uma palhinha com seu vozeirão em shows de rock por aí:

https://youtu.be/u_aSbp9ZIv8

A vida pré-TikTok era um barato.
Beijos e até a próxima.