Nossa bolha privilegiada tem falado bastante sobre home office em tempos de pandemia, mas podemos parar de fingir que as crianças não existem, não é mesmo? Centenas de atividades maravilhosas para fazer com os pequenos se você não está trabalhando. Mas e se está?
Bom, já que vocês não falam, eu falo sobre como trabalhar de casa com criança pequena. Mentira, o pessoal do Tempo Junto está falando, e muito bem. Mas nem sempre a gente consegue implementar rotina, e aprender a brincar sozinha é uma curva de aprendizado. Não vá botar os avós em risco de contágio por corona vírus, gente. Faz um esforcinho, que talvez dê certo. Segue aqui:
- Admita para você mesma (assumindo, de uma forma genérica, que a criança pequena vai demandar muito mais da mãe do que do pai) que você NÃO VAI trabalhar das 9h às 17h porque crianças pequenas precisam de atenção. Enquanto eu olho para o lado por dois míseros segundos, minha filha arranca as fraldas e sai correndo. O pai teve que sair a trabalho. Eu não estou no controle. Seu chefe não está no controle. Seus clientes não estão no controle. Se nem o presidente do país está no controle, por que eu deveria estar?
- Lembre-se que é uma pandemia e que essas medidas são emergenciais e extraordinárias. Estou dizendo isso porque seu chefe ou cliente também precisa entender que você tem criança em casa e precisará fazer horários reduzidos ou alternativos. Nem sempre eles entendem, mas tente. Se não entenderem, considere arrumar outro chefe ou outros clientes depois que essa fase passar, porque ninguém merece lidar com gente que acha que está acima da sua família no rol de prioridades.
- Crianças pequenas dormem durante o dia. O ditado “trabalhe enquanto eles dormem” nunca fez tanto sentido. Trabalhe antes deles acordarem, trabalhe no cochilo da tarde, trabalhe assim que forem dormir à noite. Entre manhã, tarde e noite dá umas 4 horas de trabalho aí (porque, claro, em algum momento você também precisa dormir).
- Telas são prejudiciais, a gente sabe, yadda yadda yadda, mas talvez você precise abrir uma concessão – especialmente se sua criança já tem mais de dois anos. Com limites, claro. Mas pensa que você pode ganhar uns 20 minutos de produtividade graças à Peppa Pig. Tempos difíceis pedem medidas desesperadas. Enquanto digito este parágrafo, minha filha descansa no meu colo enquanto vê o canal da Fafá Conta, uma moça ótima. Preferia eu mesma contar “Marcelo Marmelo Martelo” pra ela, mas nada me impede de contar quando acabar o arremedo de expediente de hoje.
- Você já está em casa mesmo, faça uma pausa para brincar com a criança. Mas brinque MESMO. Silencie o grupo do trabalho. Esteja presente. Sua criança agradece – e você voltará ao expediente renovado(a) e solucionando problemas com mais facilidade. E depois de um período de atenção integral, talvez sua criança nem exija tanta atenção – por uns 15 minutos.
- Envolva o pai (ou a mãe), se for um pai (ou mãe) presente. Ainda que eles também trabalhem, podem assumir algum horário. Aí você vai e trabalha. Zero rede de apoio? Peça ajuda para vizinhos. Peça ajuda no Twitter. Peça ajuda. Acorde o papai de madrugada. Peça ajuda. Só não vá perturbar a avó. Lembre-se do índice de letalidade do corona em idosos. Segura a onda aí que vai passar.
- Busy bags, materiais de desenho e pintura, instrumentos musicais, massinha. Vai sobrar um pouco pra parede, mas o que é uma parede desenhada perto da saúde das nossas crianças e nossos pais idosos, não é mesmo? Pra evitar o corona, pode transformar a casa na Capela Sistina de boas. Esponja mágica tá aí pra isso.
- Esteja presente. Já disse isso? Mamãe está trabalhando, mas vai ver o desenho que a criança fez, SIM. Papai está ocupado mas vai botar esse chapéu de pirata. Não custa parar 2 segundos pra comentar “ih, a Mônica bateu no Cebolinha de novo!”. Se possível, leve o note para onde a criança está.
Por fim, é uma pandemia e estamos falando de medidas extraordinárias. A criança não dorme? Deixa aparecer na videoconferência. Enquadra a câmera no rosto pro chefe não ver a criança fazendo rádio teta. Não rola TV MESMO? Deixe a criança te ajudar, ainda que atrapalhe mais do que ajuda. É só uma criança. Paciência com ela. E paciência, que essa fase vai passar (vale pro corona, mas também vale pras férias que você não conseguiu tirar junto).