Carne de Segunda: Burlesque Meat Show – subversão, sátira e peitos :)


Ontem fui com as amigas ver a pré estreia do espetáculo “Carne de Segunda – Burlesque Meat Show”. O show trouxe ao palco do Teatro Rival as performers burlescas Miss G (Giorgia Conceição), as americanas Dirty Martini e Julie Atlas Muz, com intervenções da nossa amada Delirious Fenix (Isabel Chavarri) e apresentação da deusa de ébano Aretha Sadick, uma das drag queens mais divas deste balneário.

No espetáculo, as performers subvertem o que a gente entende por sensualidade e pelo suposto papel da mulher-performer, em números kitsch, que beiram o grotesco, cabendo até sátiras políticas, embaladas por uma trilha sonora que vai de Bauhaus a Dolly Parton, em cenas dignas dos melhores filmes do John Waters e do melhor da nunsploitation (o final apoteótico tipo “Alucarda” foi épico!). E isso é lindo, porque é a essência do burlesco. Sabe o glamour retrô de Dita Von Teese e todo o luxo de Bonnie Fox? Esqueça: em “Carne de Segunda”, o vestido de festa tem aranhas em relevo e a performer cheia de paetês se enfia numa bolha gigante. “Carne de Segunda” é sátira, é humor, é burla, é gore, e é tudo que sempre imaginei que o burlesco, lá em suas origens, fosse.

Foto: divugação.

Foto: divugação.

Desculpa, gente. Amo vocês todas. Mas sempre comprei a briga de que burlesco não deve ser confundido com striptease – tira luva, tira meia, tira espartilho e roda tassels no final. Ou não apenas isso. É claro que o strip burlesco é puro empoderamento feminino, é “o corpo é meu e eu faço dele o que eu quiser”, mas da maneira como é performado como sidenumber de shows musicais e eventos, acaba virando o que a gente não queria – a objetificação da mulher, “a mina gostosa que paga peitinho antes do show”. Mais uma vez: o corpo é da mina e ela paga o peitinho que quiser. Mas e se ela quiser mostrar o corpo não necessariamente pra sensualizar, mas pra subverter padrões de beleza impostos pela sociedade? E se, ainda assim, for sensual? E se não for? E se ela quiser satirizar um espírito patriota exacerbado, ou, ainda, essa onda perigosa de pastores-políticos? E se o corpo for mostrado enquanto você prepara um picadinho, sem joguinhos, sem piscadelas, apenas o corpo como ele é? E se a performance honrar a sororidade feminina, nosso passado como bruxas, e as “bruxarias” à brasileira? Isso é burlesco.

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E no meio disso tudo, Aretha Sadick fazendo a MC e a Shirley Bassey. Puro amor. Infelizmente, desta vez não consegui fotografar nada  (peguei um lugar meio longe, e meu celular não é muito bom à distância), mas tem um papo aí que vai virar filme, então podem ficar tranquilos. 🙂

Uma palhinha pra você:

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“Carne de Segunda” é parte do Projeto Burla: divergências, contrastes e outros carnavais”, da Giorgia. O espetáculo “Yes, nós temos burlesco”, que apresentou várias vertentes do burlesco brasileiro no Teatro Cacilda Becker, em abril, também faz parte do projeto, que conta com o apoio do Rumos Itaú Cultural, prevê um longa-metragem, workshops, e tamos ouvindo falar de uma rede conectando performers burlescos de todo o Brasil (na verdade, só desse projeto existir, já mostra que essa conexão já existe e é forte). Saiba mais aqui.

E longa vida ao burlesco.

Tamo junta.

E aguardo as moças disponibilizarem a receita do picadinho.

 

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