Silvio Tendler na capa da ‘Caros Amigos’: “O cinema brasileiro não tem espaço de exibição”.
Me pergunto onde esse senhor passou o ano de 2010…
Espaço, tem. O ano de 2010 provou que basta ser um filme bem feito sobre um tema interessante a uma grande parcela de público, para ter mais espaço até do que filmes internacionais. Vai ver, Tendler anda fazendo filmes que não interessam a um grande público, por isso seu espaço tem sido restrito: distribuidores (acostumados a analisar centenas de projetos, aliás) não se interessam, o filme sem distribuidor fica sem material para vender aos exibidores e aí dá nisso. Filme de nicho é assim mesmo, Silvio: brasileiro, francês, indiano… não importa. Vai ficar uma semana em sala de arte e olhe lá.
A sorte, Silvio, é que já descobriram que todo nicho tem público. A indústria fonográfica já descobriu isso faz tempo, aliás: lembra do Lobão brigando com gravadoras e lançando seu disco em banca de jornal? Lembra dos moleques novos que descobriram que seu público estava na internet, botaram suas músicas no Myspace (já que não tinham gravadora) e estão aí, sendo ouvidos, cantados e lotando shows?
Coloque seu filme no Mubi. Lance pelo Netmovies. Silvio, você é um contador de histórias! Se não tiver verba pra fazer seu filme ou espaço em grandes redes exibidoras, faça (e lance) seu filme assim mesmo: baixe o orçamento para fazer sem depender de ninguém. Faça em digital. Descubra onde estão seus 50 mil fãs (um bom número para os investidores terem algum retorno) e vá atrás deles: é em faculdades? É na internet? É em uma ou outra cidade específica? Proponha uma estratégia de lançamento específica para seu produto.
A menos que você não saiba onde seu público está. Esse, aliás, é um erro comum: pessoas elaboram seus projetos sem ter muita certeza de quem é seu público. Aí chutam “classes A, B, C e D, sexo feminino e masculino, habitantes de qualquer cidade” e acham que os executivos que vão analisar o projeto caem nessa. Não sei se é seu caso, seu Silvio. Nunca analisei projeto seu. Mas acontece aos montes e é um erro. Sejamos realistas: quem é seu público e onde ele está?
Se tem público, tem espaço, acredite. Vide os filmes que fizeram de 2010 um excelente ano para o cinema brasileiro. Mimimi de falta de espaço não cola mais.
Ih, o que eu precisava falar sobre isso eu nem posso comentar aqui. Olha o e-mail.O que fica dessa história é aquela velha lição de que o avanço é aos poucos. Para cada passo à frente que a gente consegue dar vem uma reação desproporcional tentando empurrar de volta pra trás. Haja paciência e perseverança.