Tava comentando com o Americano sobre essa questão do fim da imprensa. Quer dizer, o fim das rotativas e fotolitos, imprensa no sentido de indústria do noticiário impresso, óbvio. Há um certo alarmismo na questão, mesmo que ultimamente a gente veja a cada dia um jornal acabando, migrando 100% para a internet ou diminuindo drasticamente sua tiragem.
O que acontece é que, de um lado, é muito mais sensato cortar gastos; e, embora a receita de uma publicação online não seja comparável à receita de publicações impressas, o prejuízo por uma ação fail é bem menor. Lucro, ultimamente, é algo tão incerto que tem-se optado por perder menos. Ponto pro online.
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O Bluebus deu a nota do jornal de Ann Arbor, cidadezinha que, assim como outras três, ficará sem um jornal diário: o jornal local será impresso apenas duas vezes na semana. O assustador é que a editora é a mesma das revistas Wired e Vogue. É uma editora grande, afinal. Você não se sente alarmado pela possibilidade de um dia não poder mais folhear sua revista preferida? Eu me sinto – mas acredito que vou sempre poder folhear alguma coisa.
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O New York Times, por exemplo, está mal das pernas – mas é incansável na busca por um formato ideal, ou na integração entre dois formatos, ou em modelos de sustentabilidade que garantam sua sobrevivência. Hoje ele existe na versão impressa e na online e, como vocês mesmos podem notar clicando na matéria original mencionada pelo Bluebus, restringe boa parte do conteúdo da online para assinantes, o que pode gerar um probleminha: parte das receitas do jornal online não vem de assinantes, mas de anúncios (entre eles, os conhecidos anúncios do Google). O que o NYT fez para continuar atraindo visitantes? Virou um grande portal de notícias, não necessariamente produzidas pela empresa. Na verdade, o nosso JB impresso já faz isso: você nunca reparou que a revista Programa tem conteúdo das revistas da Editora Peixes?
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Mas peraí, a revista SET foi descontinuada. E agora?
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Nós, leitores, lamentamos profundamente o fim da revista, mas é verdade que não comprávamos mais a edição impressa: quem quer saber de todas as novidades do mundo cinematográfico vai no Ain’t it Cool News, FilmJunk, Omelete e tantos outros sites que informam sobre as produções que estamos esperando no exato momento em que os contratos são assinados. Para as biografias completas, tracklisting das trilhas sonoras e tudo o mais, temos o IMDB em nossos favoritos. A verdade é que “They didn’t see the internet coming”, máxima que vale, aliás, pra outras indústrias (TODO MUNDO aqui acompanhou o processo do PirateBay, não?). O site da SET poderia ser uma fonte sensacional de notícias em primeiríssima mão, compiladas de trocentos outros sites confiáveis (e outros nem tanto, mas tenho certeza de que eles saberiam filtrar notícias de boatos), com um espaço para as matérias editoriais sensacionais – que poderiam ser, por que não, abertas apenas para assinantes ou mediante código da revista impressa. Um meio complementaria o outro, e a versão online também poderia gerar receita (olha o modelo que o NYT está tentando aí, gente). Mas não deu. Alguém já viu o site da SET? Como gerar receita com aquilo ali?
(agora quem falou foi a planner de uma das maiores agências digitais do país)
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E voltamos para o papo com Fernando. Várias revistas e jornais estão morrendo, verdade. E muitas migrando para o online, que ainda é bem incerto e ninguém sabe muito bem como fazer (o que abre espaço para um campo de experimentação razoavelmente barata, o que pode ser assunto para outro post); Mas eu bato na mesma tecla, sempre: existe um gap tecnológico monstruoso no mundo inteiro que impede que se decrete o fim do papel (ou do disco, ou de qualquer outra mídia física, até mesmo do cinema como o conhecemos, exibido em telas enormes), e que torna o ‘100% online’ meio tiro no pé, a menos que 100% da audiência esteja lá. Todo mundo tem acesso à internet, se quiser – mas muitas vezes, não do seu próprio computador; todo mundo tem celular: pré-pago. Quantas pessoas você conhece que têm um leitor móvel de feeds ou de pdf? Quantas dessas pessoas fazem parte da multidão que passa horas diárias dentro de um ônibus ou trem, indo e voltando para o trabalho, e estão a anos-luz de distância da paranóia de imediatismo de informação que só atinge quem ganha mais de R$ 2000,00 por mês e, aliás, nem todo mundo – vide meu pai, que nem celular tem, pra não cair na armadilha de ser mais workaholic do que já é. Se você não é editor de meio de comunicação nem operador de bolsa de valores, não tem a MENOR necessidade de acompanhar nada em tempo real. Você provavelmente tem um site ou blog, mas olha em volta, quanta gente não tem. Essas pessoas não fazem a menor questão de informação em primeira mão, nem têm condições de ter um celular com pacote de transmissão de dados pela internet, mas precisam ler o jornal de R$0,60 de todo dia, ou o livro de R$10 comprado na banca. Sem alarmismo, galera. A imprensa não vai acabar.
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Então vamos fechar esse post: eu, com a promessa de escrever algo parecido relacionado às indústrias da música e dos filmes (que eu acompanho de bem perto há uns dez anos, desde o imbroglio Napster – adiantou alguma coisa processar ‘a internet’, aliás? Alguém aí não aprendeu nada?), e vocês com o compromisso de repassar essa tirinha do Malvados pra qualquer um que decrete a morte da imprensa – no sentido de impresso, tal qual a conhecemos.