O que a Björk faria numa hora dessas?


A Björk mudaria, daria uns gritos e lançaria a braba, ou melhor: lançaria um disco esquisito.

Você, que assina o informativo pelo Mailchimp, não recebe esta cartinha há mais de um ano. Pensei em matá-la (a carta), já que queria, inclusive, parar de pagar o Mailchimp – mas pensei “não, eu ainda escrevo”. Escrevo, edito, publico e quero continuar me conectando com você de alguma forma. Este ‘e o plano:

  1. Estou mudando a newsletter do Mailchimp para outra plataforma (Substack).
  2. Se você quiser continuar recebendo, não faça nada – eu migro você para la.
  3. Se você não quiser receber mais, role até o rodapé do próximo email meu que receber e clique em Unsubscribe.
  4. Vou deixar o Mailchimp para a newsletter sobre marketing e redes sociais, que deve voltar no início de 2023. Se quiser receber, me avise.

Agora vamos para o que interessa: as fofocas e resenhas de shows.

  1. Hyperballad

Quando o Primavera Sound anunciou sua edição brasileira, hesitei uns dias para comprar o ingresso – preferi aguardar o anúncio da programação. Sabe como é: com criança pequena, não dá para simplesmente meter a louca e ir para qualquer rolê. Preciso escolher BEM para onde vou, por motivos a) de grana; b) de ter que arrumar mil esquemas com pai, avós, etc.; e c) ficar longe dela dá um apertinho no coração, confesso. 

A vinda da Björk me fez decidir pelo festival. Ainda teria Señor Coconut Y Su Conjunto, Hermeto Pascoal, Gal Costa, Mitski, Phoebe Bridgers, Japanese Breakfast, umas coisas legais de jovem (tipo Lorde, Interpol, Arctic Monkeys) que acabei não vendo porque os horários se misturavam ou porque os palcos eram tão longe que até chegar, já teria perdido qualquer possibilidade de ver de perto. Mas não fui só pela música. 

Bom, vocês querem saber da música, né?

2. Debut

Lembra quando festival de música era patrocinado por marca de cigarro? Em 1996 a Björk veio para o Free Jazz Festival, e eu, Joanes e Barbara estávamos naquele FOGO NO CU típico dos 18 anos para ver a islandesa ao vivo. Afinal, passei boa parte da adolescência ouvindo o Debut, o Post, e os CDs do Sugarcubes. E aos 18 anos, até podíamos sair no Rio de Janeiro sem supervisão adulta (ou eu achava, né? A irmã de Barbara foi conosco).

Em 1996 existia o fator Tank Girl. Você, que era adolescente moderninho nos anos 1990, talvez se lembre dos quadrinhos, do filme, e da trilha sonora, que tinha “Army of Me”, da Björk. Tava bem na moda. Tudo conspirava para que o show dela fosse um sucesso. Só tinha um problema: todo mundo jovem, duro, mas eu tinha um fanzine e liguei MUITO para todas as redações do RJ para saber se alguém credenciaria uma jovem fanzineira para cobrir aquele show.

Credenciaram porra nenhuma, mas a gente era privilegiado, branco, de classe média, conseguimos patrocínio familiar. Ninguém pode dizer que não tentamos, no entanto.

E ainda bem que não fui a trabalho, porque fiquei hipnotizada. Minha memória de 1996 já está meio turva, mas lembro bem de ter ficado atônita com aquela mulher, aquela voz, aquele show.

Alguém botou o show na internet:
https://www.youtube.com/watch?v=RU7hogHYe2k

Em 1998 ela voltou, desta vez no Metropolitan. E eu fui de novo.

Em 2007 ela voltou, mas se me lembro bem, eu estava em um momento profissional meio esquisito e nada era muito certo. Acabei não indo. 

Mas agora em 2022, com limite no cartão, criança já crescida e um monte de questões resolvidas na vida (e algumas que seriam resolvidas com essa viagem), eu não perderia esse show por nada.

3. “Obrrrigado, Sao Paolo!”

Não tenho condições de resenhar esse show do dia 5 de novembro de 2022. Björk ESQUISITÉRRIMA com um figurino que certamente tem alguma referência que não consegui captar, acompanhada pela Orquestra Bachiana Filarmônica, desfiou um repertório que misturava as músicas mais conhecidas “da minha época” com outras mais recentes – incluindo “Ovule”, do recém-lancado Fossora – parece que foi a primeira vez que essa música foi tocada ao vivo – procede, produção?

Fui sozinha ao evento, sabendo que encontraria uma galera ao longo daqueles dois dias (como encontrei), mas o show dela estava suficientemente lotado para eu não ver ninguém conhecido por perto. À minha volta, jovens de orelha de duende, cosplay de elfo, uns figurinos que se eu pudesse dar um conselho, só’ diria “tira o salto, sua lombar vai agradecer”, muita gente tomando uns negócios que não existiam na minha época de Free Jazz. 

Pelo menos não paguei o mico de ninguém conhecido me vendo chorar feito criança em “ I’ve seen it all”, uma das canções mais tristes do mundo (never forget: aquele melodrama do Lars Von Trier). 

E uma lua que meu deus do céu.

Ou minha deusa na terra – simpaticíssima, agradecendo entre TODAS as músicas, cantando para uma plateia tao grande quanto sua própria grandeza.

Finalmente consegui avistar o Auf emocionadíssimo a poucos metros dali, fiz umas fotos ruins de longe, com o celular. Morri, mas voltei e passo bem. 

Foto ruim com lua feita no Picsart porque era impossivel fotografar a lua de verdade? TEMOS

Sente o setlist: https://www.setlist.fm/setlist/bjork/2022/distrito-anhembi-sao-paulo-brazil-5bbe338c.html

4. Mas a Mitski, hein?

Gal Costa estava no line up do Primavera Sound São Paulo até cerca de uma ou duas semanas antes do evento, quando anunciou uma cirurgia. Eu já estava resignada em não ver a Mitski porque, numa escala de prioridades, Gal tocando o Fa-Tal na íntegra seria realmente imperdível.

Na ausência de Gal Costa, pude ver a Mitski. Achei o Bianchini ali perto fazendo girafinha e nos metemos na meiuca da plateia para eu ser surpreendida por um ESPETÁCULO: eu conhecia umas músicas, esperava que fosse um bom show, mas não esperava o tanto de entrega e interpretação com que a jovem nipo-americana nos brindou.

Nem lembrei de filmar ou fotografar. 

Tava ali sendo jovem.

A noite ainda teve Beach House – excelente, e nessa hora a ficha sobre tudo o que estava acontecendo na minha vida naquele fim de semana caiu, e chorei, chorei mesmo – e Boy Harsher – um show dançante, com uma pegada “festa gótica pos-punk eletro ai se eu ouvisse isso em 2003 e 2004”, mas a idade BATEU e fui para casa dormir, que ainda haveria Señor Coconut y Su Conjunto, O SHOW DO FIM DE SEMANA, no dia seguinte.

5. O que realmente aconteceu no show do Beach House

Eu PRECISAVA dessa viagem, e acho que, em certa medida, minha filha também – estamos há cinco anos vivendo em simbiose – a pandemia foi uma espécie de puerpério versão estendida. Somos MUITO conectadas uma à outra, vamos continuar muito conectadas, mas de um lado existe a sobrecarga materna quando a criança chega ao ponto de só querer fazer certas coisas com a mãe; e do outro, da parte dela, provavelmente esse EXCESSO de mãe acabaria levando ela à terapia em algum momento. Então foi bom para que nós duas pudéssemos respirar.

Ela se divertiu muito sem mim, cuidada pela avó e pelas tias.

E eu pude respirar.

Mas não foi só isso.

6. Army of Me

Da minha parte, também teve o seguinte: eu acho que você não chegou a ver como eu estava no início de 2021 – obesa *E* meus exames estavam um horror. Eu estava de bem com meu corpo – um corpo que dá colo, que nutre, que dá conforto – mas meu corpo não estava bem. A solução para meu corpo era simples: pegar sol e voltar a me movimentar (para a vitamina D fazer efeito, e para o colesterol bom substituir o colesterol ruim), já que eu nunca fiz questão de ficar sarada mesmo. Era realmente só isso. Mas faltava resolver uma coisinha.

Eu não sabia, mas todo aquele desânimo e cansaço não eram só sobrecarga materna, capitalismo, pandemia e Bolsonaro na presidência: era a tireoide funcionando mal também.

A endocrinologista descobriu, os hormônios fizeram efeito, a disposição voltou, e me condicionei a caminhar ao ar livre diariamente. Coisa simples. O peso extra foi diminuindo, as dores no joelho também, e de cerca de quatro ou cinco meses para cá decidi fazer uma atividade física especifica para dar condicionamento muscular – e, de quebra, olhar meu corpo de uma forma diferente.

Pole dance é tipo um pilates: calistenia pura, mas com uma energia mais biscate – que, aos 44 anos, uma filha pequena e depois de cinco anos trancada em casa, é MUITO importante a gente resgatar. 

Um dia eu falo mais sobre isso. 

O que importa, aqui, é: esse festival foi também meu teste de resistência – e passei com honras. A lombar não pediu arrego, os joelhos não doeram, achei que eu fosse reclamar “não tenho mais idade para isso”, mas a real é que eu encararia mais uns três dias de festival FÁCIL.

Depois do que meu corpo passou nos últimos cinco anos (e ainda com uma adenomiose recém-descoberta), você consegue imaginar como foi importante me meter nisso – e ainda reencontrar amigos queridos, conhecer pessoas que eu só conhecia de foto e internet, afofar Mari e as crianças, ser maravilhosamente recepcionada no churrasco dos comuna, e resolver umas questões aí.

7. Fahr fahr auf der autobahn

Domingo teve almoço com os amigos, rolezinho na Paulista <3 <3 <3, e no festival teve Japanese Breakfast (fofo, e Michelle Zauner toda trabalhada na make BRASIL CORE), Phoebe Bridgers (excelente show), Father John Misty (BEM FODA), Hermeto Pascoal (LENDA VIVA) e a Lorde eu não vi porque teve Señor Coconut y Su Conjunto.

E eu só fui no dia 2 do evento por causa deles.

O tanto que eu ouvi El Baile Alemán quando a Lorde nem sabia ler ainda, meu deus. 

Señor Coconut y Su Conjunto é um projeto do alemão Uwe Schmidt, um dos grandes nomes da música eletrônica naquele pais. Schmidt passou pelo EBM, house, techno, e se encontrou no mambo, cha cha cha e merengue com notas eletrônicas. E eu, que conheci Señor Coconut y Su Conjunto pelo pitoresco disco de versões cha cha cha de Kraftwerk (e só por isso já seria genial), me apaixonei também porque descobri o projeto exatamente na minha fase de rolês com o pessoal do gótico-electro-ebm, então veio com todo um contexto.

O repertório do show foi parte El Baile Alemán, parte Fiesta Songs, parte Around the World, num bailão electro-latino que, naquela noite do dia 6 de novembro de 2022, em São Paulo, não foi assistido por tanta gente quanto merecia – mas quem estava lá saiu feliz da vida e de alma lavada.

(também chorei um bocado nesse show quando eles tocaram Showroom Dummies)

Obviamente não filmei o show inteiro porque estava curtindo, mas gravei uns trechinhos para você se divertir um pouco:

8. Gal Eterna

Gal Costa deixou este plano no dia 9 de novembro de 2022, mas deixou um legado GIGANTE para a música popular brasileira – para a música mundial, eu diria.

Relembre aqui aquele momento ICÔNICO dela fazendo um dueto com a guitarra de Victor Biglione:

9. Rolando Boldrin

Rolando Boldrin se foi no mesmo dia, e ainda que ele tenha sido ator por tanto tempo, vamos lembrar sempre do Som Brasil e do Sr. Brasil, e de como os programas de TV apresentados por Boldrin sempre nos transportavam para um Brasil profundo, com boa música, cultura e causos interessantes:

10. Coisas que talvez você tenha perdido:

E esse sujeito, que herdou um monte de antiguidades, pensou “hummmm isso foi conseguido de forma ilegal” e teve a decência de repatriá-las?

https://twitter.com/liaamancio/status/1591272731949293570?s=20&t=ruYhZBa9vrJ3cq6RpA-nzA

Elon Musk comprou o Twitter e achou interessante VENDER o tal do selo de verificação. Problema: qualquer um pode comprar. Nos primeiros dias dessa ideia horrorosa, muitos perfis fake se fingiram de verificados. Deu merda. Claro:

Jane Fonda tem um blog, e é um daqueles tesouros da internet:

E era isso.

Amo você.

Diadema é longe?

Obrigada por ler tudo até aqui, e até a próxima!