Adoro contar a história de quando eu tinha uns 14 anos e virei para o Pedro, meu melhor amigo na escola, e falei “Pedro, me apresenta uma banda legal aí para eu ouvir, que eu não conheça ainda”.
Pedro me apareceu depois com uma fita gravada que entrou no meu walkman e só saiu quando eu deixei de usar walkman. Mas continuo ouvindo até hoje nos streamings da vida – e ontem tive a felicidade de assistir ao vivo novamente. Sim. Estou falando de Pixies.
Seis anos em isolamento
Para vocês, a pandemia durou uns dois anos, dois anos e meio. “Depois de dois anos trancado em casa, eu mereço”.
Certo, agora imagine que antes da pandemia estourar eu passei dois anos e meio com um bebê / criança de colo em casa, e trabalhando de casa. E que antes de engravidar, eu até saía a noite – mas morando em Niterói e casada com meu ex-marido, acabava só saindo para os rolês de bicicleta e para os shows da minha própria banda. Fazia muito tempo que eu não via a minha turma. E na minha turma é quase todo mundo fã de Pixies.
Obrigada, SUS, por me fornecer quatro doses da vacina de Covid. Sem essa vacina, o evento de terça-feira não teria sido possível. Sim, porque abracei muita gente. Mas putamerda, que saudade que eu tava.
Lado B
Para uma garota niteroiense de 14 anos, o cérebro quase explodiu com aquelas músicas que me propiciavam imagens mentais interessantíssimas – de cenas de praia, estradas poeirentas, foguetes e espaço – embaladas com gritos, energia e doçura, de uma maneira que eu nunca havia escutado antes. Uma música era COMPLETAMENTE diferente da outra, parecia que Frank Black, Kim Deal, Joey Santiago e David Lovering estavam brincando com estilos. Se havia uma fórmula, era a do “calmo – GRITOS – calmo” – mas cada faixa contava uma história diferente: era uma coletânea pirata de lados B que anos depois foi lancada como CD. Nunca mais parei de ouvir. E na última terça-feira vi e ouvi ao vivo – de novo.
Curitiba, 2004
Quando os Pixies tocaram no Brasil pela primeira vez, rolou uma excursão indie saindo do Rio de Janeiro. Eram uns dois ou três ônibus com nomes sugestivos, como My Bloody Valentine (alguém lembra dos outros?) que, se batessem, esvaziariam a Casa da Matriz. DJs, jornalistas, músicos, os indie tudo tirando as roupas de frio do armário e se preparando para duas noites épicas tendo Pixies e Teenage Fanclub como headliners. Escrevi um pouco sobre isso aqui: http://liaamancio.com.br/2004/05/10/curitiba-pop-festival. Mas texto definitivo MESMO foi o do Alexandre Matias (aqui: Twin Pixies – Trabalho Sujo ).
Tinha gente realizando sonho de quase vinte anos.
Ontem já tinha gente realizando sonho de, sei la, uns 35.
Quero ficar na sua pele, feito tatuaaaaaagem
A primeira tatuagem é sempre cheia de significado.
A 24ª já é tipo “Desenhei um macaco vestido de anjinho-astronauta, Laila. Você tatua essa em mim?”, e a Laila compra minhas ideias doidas. A Laila estava no show, aliás.
Extreme 1990’s Experience
Show do Pixies | com a Isabel Petri | encontrei meio Centro Educacional de Niterói | o Pancake quase inteiro na plateia | minha mãe me falando para chegar cedo | e levar uma capa de chuva (não levei) | a roupa voltou com cheirinho de festa no Vollupya | “nao vejo esse povo todo reunido desde aquela festa a fantasia no sítio de Julia” | foi lindo demais ❤️
(justiça seja feita: também vi o show com a Dani Bobsin e o Pedro Fraga, mas aí já era inicio dos anos 2000)
Aqui cabe o comentário: sou fã, sou cadelinha dos Pixies, mas não sou exatamente fã do que aconteceu depois dos anos 2010, quando eles lançaram material novo e inédito, e me pergunto se Indie Cindy, Head Carrier e Beneath the Eyrie sao albums meio fracos mesmo, ou se a gente é que é velho.
Pode ser que eles nem se comparem aos BIG SIX (Come on Pilgrim, Surfer Rosa, Doolittle, Bossanova, Trompe le Monde e a coletânea de B-Sides), mas de 2013 para cá temos TANTA oferta de lançamentos, com TANTA facilidade, e a gente tá velho, é mais difícil assimilar novidade; e os BIG SIX a gente ouviu em loop desde os 14 anos, quando a gente mal tinha saído dos discos infantis e do pop adolescente. Entao vou defender aqui os discos supostamente “fracos” do Pixies: é que são muito recentes e a gente ouviu muito pouco para chamar de clássicos.
Mas o Doggerel, gente.
Doggerel eh um clássico. Também não levantou muito a plateia do Vivo Rio porque o disco foi lançado tem nem um mês e não deu tempo de decorar as letras. Fora que pessoal esperou trinta anos para ouvir as músicas do Doolittle ao vivo, tem toda uma CARGA EMOCIONAL. Mas pode ouvir o Doggerel sem medo, é nível Trompe Le Monde.
Resumindo:
- Gouge Away
- Wave of Mutilation
- Broken Face
- Crackity Jones
- Head On
- Isla de Encanta
- Monkey Gone to Heaven
- Something Against You
- Human Crime
- Cecilia Ann
- Planet of Sound
- St. Nazaire
- Vault of Heaven
- Who’s More Sorry Now?
- The Lord Has Come Back Today
- There’s a Moon On
- Gigantic
- Bone Machine
- Cactus
- I’ve Been Tired
- Tame
- Debaser
- Hey
- Caribou
- All the Saints
- Death Horizon
- Here Comes Your Man
- Vamos
- Nimrod’s Son
- The Holiday Song
- Motorway to Roswell
- I Bleed
- River Euphrates
- Rock Music
- Velouria
- Wave of Mutilation (UK Surf)
- Where Is My Mind?
- Winterlong
E aí eu chorei.
Tem videos no Instagram. Com aquele som horroroso do Vivo Rio, mas foi o que deu.
Atenção!
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