Como vocês devem ter lido no post do meu relato de parto, o que aconteceu foi o seguinte: o diagnóstico de pré-eclâmpsia não veio no exame de proteinúria 24h das 34 semanas. Passei 24h mijando num galão que eu levava pra cima e pra baixo comigo (mentira, haha, fiz a coleta num domingo – porque, além de tudo, grávida e inchada como eu estava só poderia mesmo coletar aquele xixi todo em casa, no chuveiro, porque é impossível enxergar onde você mija sem molhar tudo em volta), pra dar negativo pra presença de proteína na urina – sendo que eu estava com pré-eclâmpsia SIM, confirmada no pós parto, depois de passar 24h internada numa unidade de pós operatório do Hospital Icaraí, com uma sonda enfiada na b**eta, soro, sei lá mais o que na veia e uns aparelhos monitorando minha pressão o tempo todo.
Enquanto isso, minha filha recém nascida ficou no berçário, porque aquela ala do hospital era uma espécie de CTI, e embora só tivesse eu no quarto, aquela ala pode ter gente internada com toda a sorte de problemas, então sem bebês por lá.
Olha a merda. Até hoje compenso com todo o colo e mimo que ela quer, porque deve ser traumático pra caramba pra um recém nascido passar as primeiras 24h de vida longe da mãe. Beto descia várias vezes para ver Diana, mas eu mesma só fui ficar com ela no dia seguinte, quando fui transferida para o quarto da ala da maternidade.
1 – Sem peito nas primeiras 24h
Como vocês podem adivinhar, nessas primeiras 24h de vida, Diana foi alimentada exclusivamente por leite artificial, por algum motivo que desconheço, já que o Hospital Icaraí fica DO LADO do Antônio Pedro, que tem o banco de leite materno referência na cidade.
Mas eu não estava em condições de brigar, com pontos e monitores e naquela cama doida que inclina, e com a sonda ainda enfiada. Não sei quanto a vocês, mas eu achei entrar em trabalho de parto E passar por uma cirurgia bastante desgastante. E eu sabia que Diana estava bem e sendo assistida.
Então no dia seguinte fui transferida pro quarto e minha filha veio também.
E não acordava nem por um c***lho, porque recém nascido dorme mesmo, então lá pelas tantas chegou a enfermeira, acendeu as luzes, botou Diana sentadinha no colo dela e tuc tuc tuc, Diana tomou todo o leite do copinho que a enfermeira trouxe, e voltou a dormir.
Mas, gente, a que horas essa criança pega o peito? Acho que ela precisa sugar um pouco pro leite descer, né?
Três horas depois volta a enfermeira com o copinho, tuc tuc tuc tuc tuc Diana bebeu o leite, arrotou e dormiu cheia e feliz.
Mas Diana era bonitinha tomando leite no copinho feito gente, cara.
Então eu queria saber a que horas as enfermeiras vinham, para que eu pudesse botar o despertador para vinte minutos antes e oferecer o peito antes do bendito copinho.
Só que a cada mudança de turno, os horários das visitas ficavam meio zuados, nunca era de três em três horas pontualmente – às vezes era um pouco mais, às vezes um pouco menos, e as enfermeiras chegavam antes de eu botar a teta pra fora. Claro que meu leite, que ainda era colostro, saía em gotinhas que, dizem, são suficientes para um recém nascido, mas Diana já tinha uns dois dias e a gente naquela confusão, Beto já tava brigando com as enfermeiras e com a chefe da seção de pediatria neonatal e depois de três dias lá nós fomos pra casa, finalmente. Com prescrição de complemento de 3 em 3h.
Chamamos a nossa doula, Luana Gonçalves, que deu vários toques sobre como acordar a pequena, como mantê-la acordada enquanto mamava (pra quem quiser saber: cosquinhas no pé).
O importante é que agora a gente tinha o controle: eu acordava Diana, ela mamava, e depois de cerca de meia hora no peito, aí sim ela tomaria o complemento.
Eu estava tão feliz que até esqueci do conselho que a Camila, minha parceira de bambolês, me deu quando minha pança ainda parecia uma pança de pizza:
“Quando te derem ela e ela pegar no seu peito, abra a boquinha dela assim, ó, tipo um peixinho”.
2 – Confusão de bicos e pega errada
Cinco dias e nada do meu leite descer, só aquele colostrinho mixuruca, mas pegamos uma indicação de uma pediatra maravilhosa com a mulher do meu primo. E a pediatra sugeriu mantermos o complemento, mas me tranquilizou dizendo que era só até Diana ganhar peso, pois ela saiu da maternidade com 2kg 200 e poucos. Pela pediatra, retiraríamos esse complemento assim que a amamentação se estabelecesse.
(lembro até hoje quando liguei apavorada pra pediatra, porque Diana mamou, dormiu e não queria a mamadeira de jeito nenhum. A pediatra disse “mãe, você está apavorada à toa. Se ela não quer o complemento é porque ela está saciada com seu leite. Descanse”)
Mas naquele momento, a gente tinha que dar aquela dose de leite artificial depois de cada mamada.
Não nos entendemos com o copinho. Com a enfermeira do hospital parecia fácil, com minha mãe parecia fácil, mas nem eu e nem Beto nos entendemos.
Tentamos uma mamadeira incrível (a MAM First Bottle), cheia dos paranauês de esterilização no microondas, bico para recém nascidos, mas mesmo assim o fluxo era demais para Diana.
Tentamos aquela mamadeira vagabundésima de bico marrom, mas também não rolou.
Acabamos nos entendendo com uma mamadeira pequena que ganhamos no chá de bebê (da marca Fly), que tinha um bom fluxo e um bom tamanho pra boquinha dela.
Até o dia que ela começou a não se entender com a mamadeira: abria uma boca gigante, maior que o bico, e se irritava porque o bico era diferente do que ela esperava. E também não se entendia com o peito, sugava muito suavemente, eu não tinha como ter certeza que algo estava saindo, Diana já tinha umas duas semanas mas meu leite ainda saía pouco e misturado com colostro – na dúvida, eu dava o complemento.
Foi aí que percebi que a tão temida confusão de bicos, sobre a qual eu já havia lido naqueles fóruns e blogs que me mantinham acordada enquanto Diana arrotava de madrugada, havia se concretizado.
Esses fóruns e blogs são os melhores amigos de uma mãe de primeira viagem, mas há que se ter parcimônia e bom senso: ou tá cheio de mamãe perdida dando cada dica absurda, ou tá cheio de especialistas cagando regra tipo “não poooooooode mamadeira de jeito nenhum, suspenda isso agora!” aí a mãe que não se entendeu com o copinho deixa a criança com fome? Não, né?
Na dúvida, vamos chamar uma consultora de amamentação, então.
Uma pequena interrupção aqui: fóruns e blogs têm esse probleminha, né? Mas eu estou num grupo de mães no whatsapp, e por mais terrível que “grupo de mães no whatsapp” possa parecer, nos conhecemos num grupo de apoio ao parto humanizado, pensamos mais ou menos parecido sobre criação com apego, amamentação, introdução alimentar e outros marcos, moramos quase todas na mesma cidade, nossas crias nasceram no mesmo ano e estamos todas passando pelas mesmas questões. Esse grupo tem sido uma bênção. E a indicação da consultora de amamentação saiu de lá.
Chamei a Fabiola Costa, que depois de uma avaliação cuidadosa de Diana (ela também é fonoaudióloga), onde viu que não tinha nada de errado com a criança, bora avaliar a mãe.
E mãe tensa e cansada não tem leite direito mesmo.
Então a ideia era ministrar o complemento na sondinha de relactação, porque aí Diana sugava meu peito, estimulando a descida do leite – e tomava a dose recomendada pela pediatra.
A ideia era ótima.
Mas como nossos filhos sempre são mais espertos que todo mundo, Diana descobriu o esquema, empurrava o bico do peito com a língua e sugava só a cânula.
Não estou brincando. Com menos de um mês, ela aprontou essa.
Voltamos para a mamadeira, mas aí lembramos que a bomba de extração vinha com uma mamadeira (a Avent Pétala), e ela ganhou outra Avent Pétala com o bico adequado à idade, eu dava o peito, o pai dava a mamadeira, essa confundia menos que a outra e um dia meu leite JORROU, saiu jatinho quando apertei, então passei a confiar mais no meu próprio corpo, a pediatra suspendeu o complemento de 3 em 3h, Diana engordou assim mesmo, mantínhamos UMA mamadeira noturna, apenas, que o pai dava pra que eu conseguisse dormir mais um pouco, tudo certo, até que um dia eu acordei com o peito duro e em chamas, doendo até as axilas, depois de uma dessas mamadas que pulamos.
3 – Vai dar mastite
“Vai dar mastite”, disse a consultora, que recomendou que eu ordenhasse entre mamadas, aplicasse compressas frias 3x ao dia, massageasse o seio (as compressas Thera Pearl da Lansinoh viraram minhas melhores amigas), e depois desse tratamento melhorou um pouco. Aí eu banquei essa mamada, pela minha saúde física e apostando que Diana um dia acordaria menos vezes por noite, que tudo passa, tudo passará.
4 – Amamentar dói
Na rotina de ordenhas, no entanto, eu ainda não conseguia uma quantidade significativa de leite pra, quem sabe, dar para Diana na minha ausência (em dia de consultas médicas, por exemplo). Tentei com a bomba Lillo Manual simplérrima que ganhei no chá de bebê. Tentei com a Avent manual. Tentei com a maravilhosa Medella Swing que está comigo emprestada de uma amiga.
E o bico do peito esfolava por causa da bomba e da pega de Diana, e tome Lansinoh pomada (foi a melhor que testei, já que não precisava tirar antes do bebê mamar) e conchas para proteger os mamilos do atrito com o sutiã.
5 – Ducto entupido e candidíase mamária
Aí um dia eu suspeitei de um ducto entupido, porque tinha uma bolinha branca no mamilo. Era, era sim. Não precisei fazer punção, resolvemos na própria mamada – Diana sugou, eu dei uma futucada de leve com a unha, a membrana por cima do ducto arrebentou, tudo certo.
O problema é que quando mandei a foto do mamilo pra Fabiola ver o ducto, ela cravou outro diagnóstico: tá com cara de candidíase. As crostinhas brancas na língua de Diana não saíam. Passa nistatina no peito e na língua da bebê. Depois de duas semanas, passou.
Mas putaquepariu, hein?
Toda semana um problema diferente.
6 – E a pega?
Agora tá tudo bem.
Mas as mamadas, que deveriam ficar mais rápidas e eficientes conforme a criança cresce, estavam demorando cada vez mais.
E Diana não fazia a tal “boca de peixinho”. Diana sugava o mamilo, apenas. Ela continuava ganhando peso, mas pendurada em mim o dia inteiro. Dormia mamando. Acordava pra mamar. Mamava no intervalo. E depois de ver dezenas de vídeos e sites sobre pega, chamei novamente uma consultora de amamentação (a Luiza Zelesco, do Coletivo Gesta) para me ajudar a corrigir a pega de Diana.
E depois de quase um mês puxando o lábio inferior dela pra fazer aquele “vácuo” no peito, e atochando o peito quando ela abre a boca, quase dando o bote, hoje parece que a pega ajustou: os lábios dela já viram pra fora, ela mama dez minutos e dorme por quatro horas à noite, ela parece estar sugando mais forte.
Está tudo bem agora.
Diana faz cinco meses essa semana e meus seios ainda vazam. Muito. Sistema hidráulico nota 10.
Mas como volto ao trabalho daqui a duas semanas, vamos começar a introdução alimentar.
E como passo muito tempo fora de casa, ela vai ter que tomar leite artificial, porque é pouco provável que eu consiga ordenhar leite materno suficiente para tanto tempo fora.
“Nossa, Lia, tanto tempo e investimento em amamentar, pra tudo ir por água abaixo com a sua volta ao trabalho?”
Não vai por água abaixo.
Considero isso um investimento na saúde da minha filha: conseguir amamentá-la exclusivamente em seus primeiros meses de vida, apesar das dificuldades.
Além do mais, de licença-maternidade eu só tenho essa função mesmo. 😂😂😂 Então vamos fazer direito.
E se ela pedir peito quando eu voltar do trabalho ou nos fins de semana, vai ter. Sim. Muito. Todo o peito do mundo.
❤
Lembrei desta tirinha da Maitena: “Coisas que ninguém te conta sobre a hora de amamentar o bebê”. Muito verdade:
Coisas que ninguém te conta sobre a hora de amamentar o bebê
❤
A doula, as consultoras de amamentação, a pediatra e a minha grande amiga (e também doula) Mariana Noronha, que me deu muito suporte mesmo à distância, foram maravilhosas: a cada insegurança minha, a cada sintoma de cansaço físico e mental, a cada número que eu marcava no Bingo da Amamentação Zuada, eu tive apoio – mesmo na decisão de dar a mamadeira noturna – e a mensagem: confia no seu corpo, confia no seu leite, Diana é perfeita, tá tudo certo. A curva de crescimento da pequena está maravilhosa, parabéns aos envolvidos.
E que a Deusa me proteja, porque vem dente por aí.