“Larguei meu emprego de 9 às 17h e resolvi ser feliz”
“Saiba como alcançar a felicidade”
“Cure-se da depressão”
Serviços de coaching, terapeutas, psiquiatras, artigos de revista, galera da autoajuda, todo mundo promete uma tal felicidade que às vezes dá até pra desconfiar. Afinal, a tristeza, a melancolia e a insatisfação fazem parte do processo de ser vivo. Ou você acha que, se estivéssemos satisfeitos, desbravaríamos terras e mares, criaríamos novas tecnologias ou mudaríamos alguma coisa em nossas vidas…? Nada disso. O ser humano é movido a insatisfação.
É plenamente possível ser feliz e passar por períodos de melancolia sem motivo. É perfeitamente saudável não ser feliz o tempo inteiro. Ou simplesmente não ser feliz – sem que isso te torne uma pessoa depressiva. A questão, acho – veja bem, não sou psicóloga nem psiquiatra -, é como você lida com a sua insatisfação – ou até mesmo com sua não-felicidade, vamos chamar assim aquele sentimento neutro que não é uma vontade de sair sorrindo sem motivo pelas ruas (felicidade) nem necessidade de se lamentar (infelicidade). Ninguém sai do lugar porque está satisfeito onde estava. a insatisfação pode funcionar como uma mola propulsora pra que você realize seus desejos – e mesmo assim, tenho cá minhas dúvidas se todos os nossos desejos precisam ser realizados, ou se um pouco de tolerância à frustração não faz bem. Saber lidar com nossos próprios sentimentos é muito importante.
Pra mim pode parecer fácil falar isso. Eu sou uma pessoa feliz, na essência. Tenho minhas insatisfações, mas no geral tenho plena consciência de que a vida que levo fui eu que construí, o que me deixa realizada, de alguma forma. Mas existem pessoas que vivem infelizes – e infelizes duas vezes: uma, porque são ou estão infelizes mesmo, e outra, porque não conseguem cumprir com a expectativa de felicidade induzida pela mídia – aquela perseguição da felicidade a todo custo. Aquela que, sinceramente, pode até ser desnecessária para pessoas que vivem bem com seus sentimentos neutros e simplesmente não sentem vontade de andar saltitando por aí. Mas, para a sociedade, precisam ter a felicidade como meta. Longe de mim achar a Veja uma boa revista, mas essa entrevista com o psicólogo Steven Hayes – que eu já havia lido, mas a Sumaya Lima me lembrou recentemente dela – é bem interessante. Ele diz, por exemplo, que “Ao fazermos isso (evitar a dor), acabamos criando uma série de medos e fobias, que aumentam ainda mais o sofrimento. O conceito de que felicidade é como a ausência de sentimentos ruins nos leva a reagir à dor de uma maneira que limita nossa vida”. Não podia concordar mais. Sempre fui Polyanna, jogava o jogo do contente até fazer análise por cerca de três anos e descobrir que não, eu não estava contente o tempo inteiro. Eu tenho um lado sombrio, sim. Eu tenho sentimentos ‘ruins’. E é bom senti-los, sabe? O tempo inteiro? Felizmente, não. Talvez você sinta dor e infelicidade o tempo inteiro. Para ir para o outro extremo – a felicidade – haja remédios e tentativas que, se forem malsucedidas, podem te deixar ainda pior. Que tal a neutralidade? Que tal entender essa dor e essa infelicidade? De onde isso vem? Por que? Que tal trabalhar a causa dessa dor, e não simplesmente ‘buscar a felicidade’?
Não, você não tem que largar tudo pra ser feliz. Você pode ser feliz aí mesmo, onde você está. Ou você pode não ser feliz o tempo inteiro, e está tudo bem. Ou você pode não ter a sua “vida dos sonhos”, mas essa é a vida que você mesmo construiu – sua, só sua, e por isso, digna de respeito, e tudo bem se você não tem um pônei ou uma máquina de fliperama em casa – a gente não tem que ter tudo o que a gente quer, ou corremos o risco de nos transformar pessoas mimadas, com baixa tolerância à frustração. Ou você quer MESMO, acredita que pode – então vai lá e corre atrás – afinal, o mundo é movido pela insatisfação. Mas por favor: se a felicidade não bate à sua porta, o problema é todo dela. Você é maior que isso. Aprenda você a conviver com seus sentimentos, o que já é um avanço e tanto.
…e você?
O que é felicidade pra você?
Os comentários estão aí pra gente conversar 🙂