Foi em 2001 que comecei a tomar aulas de dança espanhola. Saía do trabalho no Centro do Rio, me encaminhava para o Humaitá e era um tal de ‘ta-tarata-ta-ta-ta’, bate o pé, ‘a la puerta de Toleeeeeedo jo tengo seeeellooooo’. Uma loucura.
Dei a maior sorte do mundo, de iniciar as aulas com Alberto Turina e, logo depois, com sua mulher Mabel Martin, fundadores da Escuela de Danza do Rio de Janeiro, ambos já com décadas e décadas de dança, estudo, ensino e paciência.
Fiquei pouco tempo – não cheguei à apresentação de final de ano! -, mas o suficiente para aprender a tocar castanholas, a me portar com elegância. Eu já sabia que jamais entraria em corpo de baile tradicional por causa das tatuagens (naonde que bailarina tradicional exibe rabiscos no corpo? também, não sabia que um dia Kat Von D. existiria e lançaria o melhor corretivo do mercado), e já sabia que o flamenco seria um paliativo enquanto eu não achava um bom curso de sapateado – ou de hula. Ou, como descobri mais tarde, enquanto eu não conhecia a dança de salão.
Ainda assim, e embora não me lembre mais das sevillanas, Alberto e Mabel me ensinaram lições valiosíssimas. Alberto me ensinou a conectar com o chão – mais do que uma símples metáfora, falo de estilos de sapateado mesmo: eu vinha do tap, do sapateado ‘pra cima’, e o que a dança espanhola propõe é outro tipo de percussão, de peso dos pés, das pernas. Mabel dizia “dance com o útero!!” – e não é que funcionava?
Mabel era uma senhorinha pequenina, que já aparentava idade avançada quando eu fazia aulas com ela, há cerca de 10 anos atrás. Tive a oportunidade de vê-la, na apresentação de final de ano, e descobrir que esse negócio de idade avançada era só até a hora em que subia no palco e começava a dançar: aí Mabel virava uma moça na flor da idade, atraindo todos os olhares admirados, suspiros e… putaquepariu. Mabel Martin era espetacular.
Já havia feito balé clássico na infância, jazz na pré-adolescência, e tinha umas noções de sapateado. Mas foi com Alberto e Mabel que descobri que o que eu tinha que fazer na vida era dançar. Soube, recentemente, que faleceram em 2010, com um mês ou dois de diferença. Lamento e sinto saudades. Andei vendo umas aulas de Mabel para uma turma mais recente no youtube e, cara, que vontade de chorar.
Vão em paz, Mabel e Alberto. Vocês encheram o mundo de dança, de arte, de beleza, ensinaram a um monte de mulheres a arte de ser mulher. Obrigada por tudo. De verdade.