O filme novo dos Muppets 3


Sim. Choramos, rimos, cantarolamos juntos, ficamos meio putos com a dublagem (KERMIT? o nome dele é CACO!), nos identificamos com os personagens, choramos mais um pouco, cantamos Mahna-mahna. O filme dos Muppets, esse novo escrito pelo Jason Segel, que está nos cinemas agora, é pra gente como a gente. Nós crescemos com os Muppets. Aprendi a ser mulherzinha, histriônica, passional e determinada com Miss Piggy. Cid sorria toda vez que Animal aparecia na tela. Fomos educados, ele com o programa de TV e eu com os filmes, à base dos bonecos de feltro de Jim Henson. E ouvir ‘Rainbow Connection’ me traz lágrimas até hoje.

Isto posto, não dava pra não amar o filme dos Muppets, esta nova aventura em que Mary, Gary e o irmão muppet de Gary, Walter, descobrem que o antigo estúdio dos Muppets será demolido e se empenham em juntar a trupe, 30 anos depois, para angariar fundos para comprar o estúdio de volta. As cameo appearances, os números musicais, a metalinguagem o tempo todo (eles sempre estão cientes de que estão em um filme), tudo isso nos divertiu um bocado. E eu, particularmente, me apaixonei perdidamente pelo figurino da Amy Adams. Mas entendo. Eu entendo o que se passa no mercado brasileiro, em que o filme abriu mal e, em plena quarta-feira de noite, menos de 1/3 da sala estava ocupada.

Em primeiro lugar, ‘Os Muppets’ não é um filme para crianças. Jason Segel, adoro você, amei o filme, mas seu conceito de “filme para a família” funciona apenas localmente. Quando Caco/Kermit pega sua antiga agenda telefônica para procurar uma celebridade e chama “Alô? Presidente Carter?” – isso não é para crianças. A Electric Mayhem não é para crianças. Os números musicais (especialmente “Man or Muppet”) não são para crianças. São, sim, para a criança de 8 anos que existe em um homem de 40, mas um filme para a família precisa também envolver as crianças de 8 anos reais, e não é somente a presença dos bonecos que vai garantir isso. As muito novinhas não vão entender. As mais velhas acho que prefeririam assistir a um episódio de ‘Punch the Teacher’. Nos EUA, talvez – uma vez que os Muppets nunca deixaram de ter produtos licenciados, o que garante a presença no imaginário coletivo de crianças de todas as idades, mas aqui? Ou você via o Muppet Show, ou seu pai era um nerd e te levou ao cinema em 81 e 83, ou você não conhece os Muppets. Porque, vamos combinar, Muppet Babies não são Muppets (pra começar, eram desenho e não bonecos)

Então, Disney Brasil, por que a falta de opção de cópias legendadas? Aos fins de semana, pais vão levar seus filhos (que vão morrer de tédio durante quase todo o filme, porque nenhuma criança merece Amy Adams com dor de cotovelo dançando sozinha no restaurante), mas durante a semana o público será de adultos nostálgicos, geeks, nerds, pessoas que frequentam cinema desde os anos 70, 80 – ou seja, já desenvolveram uma cultura cinematográfica razoável… e preferem ver legendado. E vão deixar de ir ao cinema porque, pra ver dublado, é melhor baixar (é, Disney, estamos em 2011).

Abriu mal? Vai cair pela metade o número de salas no próximo fim de semana? O filme já é um filme de difícil posicionamento, e ainda por cima os executivos de marketing da Disney Brasil não souberam trabalhar o filme para o público que realmente vai curtir e comprar produtos licenciados (adultos ganham salários e compram brinquedos carésimos, hein, Disney? Ainda dá tempo de uns bonecos maneiros. Fica a dica).

Não tá indo bem. Uma pena. Porque a menina de 5 anos que nunca saiu de mim amou e recomenda a todos os adultos nostálgicos, mesmo que em cópias dubladas, mas eles provavelmente não terão muitas opções de salas para ver na semana que vem. Disney, da próxima vez, contrata minha consultoria. O potencial é grande, o filme é lindo, vocês não precisam amargar preju nessa vida.


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3 pensamentos em “O filme novo dos Muppets

  • Marcos

    Será? Esse negócio de "crianças vão gostar/crianças não vão gostar" é meio complicado de prever. Um amigo levou os filhos, eles curtiram muito. Eu AMAVA o programa dos Muppets, mesmo sem entender nada das referências (que eram pros adultos). Eu gostava por outros motivos, mas gostava.(Lembrei daquele caso recente do programa de TV brasileiro direcionado ao público jovem e que acabou sendo um sucesso entre os velhinhos, que adoravam ver a apresentadora gatinha.)

  • Lia

    É complicado de prever, mas vendo os números da abertura do primeiro fim de semana, nota-se que nem o assunto interessa (senão todo mundo iria em peso), nem o marketing foi bem feito, nem o lançamento foi bem planejado (1 semana depois de happy feet 2 e 1 semana antes do gato de botas) e nem o boca a boca está rolando muito bem.

  • Paulo Torres

    Eu vi em uma sala lotada de crianças, que na saída pareciam ter gostado bem do filme, mas sem terem aquela empolgação pós-filme que elas têm em um, digamos, Procurando Nemo.Mesmo dublado, gostei muito. E eu seria o primeiro a reclamar da mudança de nome do Kermit/Caco, mas o desculpo graças àquela simpática exlicação que ele deu em um vídeo promocional: http://youtu.be/zIf0D-ZMIOg