Paris (pra comemorar la prise de la Bastille na terça)


Pra comemorar o 14 juillet, um filminho que vi semana passada: ‘Paris’, de Cédric Klapisch, é sobre pessoas – e, ao mesmo tempo, sobre nada. Porque a Paris de exportação pode ser glamourosa, mas a Paris de verdade tem feira na rua, imigrantes, empregos de merda, pessoas mal-humoradas que andam bufando pelas ruas e os lindos prédios antigos que compõem a cidade, na verdade, têm instalações internas que precisam urgentemente de reformas – e ‘Paris’, o filme, mesmo quando mostra glamour, mostra o lado tosco: veja bem, Cédric Klapisch tirou o charme até mesmo de Juliette Binoche, aqui na pele de Élise, quarentona mal comida, com um emprego que paga mal e enche o saco, 3 crianças a tiracolo, que descobre que seu irmão pode morrer do coração em breve.

paris

Pierre, o tal irmão, é interpretado por Romain Duris, que eu não sabia que era tão bom até descobrir que foi ele que deu vida a Jean-Baptiste Poquelin, o Moliére, no filme sobre o escritor e dramaturgo francês. Pois é, precisei do imdb pra descobrir isso, tão bom é o cara, que se transforma completamente a cada personagem. O sujeito esteve também em ‘Bonecas Russas’, ‘Albergue Espanhol’ e ‘Chacun cherche son chat’, todos de Cédric Klapisch, e eu nem sabia, o que adiciona mais um ponto de normalidade à ‘glamourosa’ França: lá, como aqui, também tem panelinha na indústria cinematográfica.

E por falar em panelinha, temos Fabrice Luchini (que esteve com Romain Duris em ‘Moliére’) num personagem genial: apesar da sinopse de ‘Paris’ versar sobre a condição cardíaca de Pierre e sua irmã cuidadosa, o filme é de Roland Verneuil, professor de história um tanto problemático, que garante as pequenas doses de um humor que se manifesta na platéia em forma de risada nervosa.

Klapisch não é nenhum Altman, mas a maneira como as vidas dos personagens se entrecruzam é bem bonita – tendo, claro, Paris como coadjuvante. Em vez de personagens isolados, temos uma estrutura de novela – o núcleo feirante, o núcleo das modelos, o núcleo imigrante, o núcleo da padaria, o apartamento de solteira da universitária, a família do professor de história, o mendigo. É tanta gente que nem dá pra se envolver com todo mundo, só pra observar da janela – como Pierre, o ex-dançarino que pode morrer do coração a qualquer momento.

Mas, ei, só observar pode ser uma experiência interessante, às vezes (desde que a vida não seja só isso).

Você atribui vidas às pessoas, você imagina os passados das coisas e cria histórias – e criar histórias pode até ser produtivo, acredite.

‘Paris’ é um exercício de observação, que pode ser reproduzido em qualquer cidade do mundo.

Faz aí que eu faço aqui.

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Aliás e a propósito, como anda o seu francês? Quando você aprendeu sobre a Queda da Bastilha, não tinha wikipedia e hiperlinks bacanas – agora tem. O-ba. Entenda como foi a tomada da Bastilha pelo povo aqui.

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Leu tudo? Agora treine seu francês básico com a ajuda de Joe Dassin:


(Lounge dedica essa canção a G. Z., que também é do vélo)

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