Enquanto vocês fazem teste pra saber seu quociente de nerdice e gastam tweets com a matéria sobre orgulho nerd no Fantástico, em 93 ou 94 (veja bem, 93 ou 94!) saía uma matéria na Revista General proclamando que ser nerd era cool. Botando Ayrton Senna, ainda vivo, e Kurt Cobain, também ainda vivo, na mesma categoria que Jerry Lewis – afinal, pra entender de mecânica e velocidade e virar um gênio das pistas era necessário ser nerd, da mesma maneira que um garoto magrelo, franzino, meio depressivo e que só arrumou mulher depois que montou banda, esse sim tinha que ser nerd de carteirinha. E nesse mesmo ano de 93 ou 94, Lia e suas amigas adolescentes encaravam a grande questão da humanidade: existe ou não existe mulher nerd? E existia, era a Ana Elisa, que mesmo na época pré-internet sabia TUDO, eu disse TUDO que aconteceria nos próximos episódios de ‘Arquivo X’ e ‘Lois & Clark’. Orgulho eu tenho é dela, não da maioria dos nerds de hoje em dia.
E daí que dez anos depois, eu escrevi aquele texto. Aquele do qual me arrependo um pouco, não porque ache que nerds não mandam bem, mas porque hoje eu tou mais velha e já não acho tão legal ficar escrevendo em termos tão… como dizer… de forma tão direta. Enfim. E também me arrependo de dizer que nerds mandam bem e ter incentivado uma legião de nerds país afora a sentirem orgulho disso. É pra ter, se você acha o equilíbrio entre ser nerd e ter uma vida. Do contrário, é pra ter vergonha. Eu tou com vergonha da classe, sério.
…porque, sim, é pra ter orgulho de estudar mundos e sacar tudo de história medieval e ter lido todos os livros e saber falar élfico, klingon e wookie. É pra ter orgulho de ser inteligente, claro. Mas de que adianta tudo isso se você não pega sol, um pouquinho que seja, ou correndo ou andando de bicicleta, porque acha que é perda de tempo (podia estar fazendo algo mais produtivo, lendo um livro…)? Um pouquinho de sol, que seja, é até saudável, sabia? De que adianta ser inteligente se você tem cara de doente? Aliás, de que adianta entender klingon ou élfico na vida real? o_O
…e de que adianta ter orgulho de saber programar em linguagens diferentes e virar noite rodando programa se tu se alimenta de pizza com coca-cola e suas artérias estão a perigo? Sim, a conta bancária aumenta na proporção, mas a possibilidade de ter um infarto ou um piripaco de estresse antes dos 40 também.
…de que adianta ser um cara culto e educado e não ter uma vida pras pessoas saberem que você é culto e educado? Eu hein. Get a life.
…de que adianta ter orgulho de ser nerd, se você não fez nada com isso? Conheço uns nerds que podem se orgulhar disso, que transformaram suas paixões em algo produtivo e ainda conseguem ter uma vida real, mas e esses caras que se orgulham de uma nerdice estereotipada, como ficam? Eu tenho orgulho de ter aprendido a dançar depois de décadas como a gordinha desajeitada da turma, sabia? Minha nerdice me levou a escrever, a pesquisar, a tentar entender coisas, e hoje eu tou linda, saudável, responsável, cuido do meu corpo tanto quanto dos neurônios (tá bom, os neurônios têm mais destaque mesmo), tenho assunto tanto com nerds fãs de Star Wars como com não-nerds dançarinos de salsa e não morro de orgulho de não ir à praia com mais frequência. Pelo contrário, morro é de vergonha.
Vê lá se você não está vivendo um estereótipo nerd, cara. Dá pra ser inteligente, culto e geek sem necessariamente ter uma risada de personagem do Jerry Lewis ou ostentar uma aparência de doente ou de psicopata. Fica a dica: achar o equilíbrio é fundamental.
Aliás e a propósito, fiz o teste no site do Fantástico. E apesar do sabre laser, dos óculos, da coleção completa do Mochileiro da Galáxia e do Lobo, das toneladas de revistinhas de sudoku e de não conseguir ir à praia pra bundear na areia há muito tempo, fiz míseros 20 pontos. Será que não sou nerd e não sabia? Será que estou curada?
Obrigada, senhor, por me fazer uma mulher normal.