Homenagem ao cachorro que morreu


Faz uns quinze anos, minha mãe apareceu com um poodle em casa. Tão pequenininho, fofinho, preto, serelepe e, como todo poodle, meio histérico. Sei lá o que deu na cabeça da minha mãe: morávamos em um apartamento grande, com área de serviço, mas um cãozinho era um pouco demais, não?

Não.

Minha mãe, graças a deus, sempre foi uma dona de cachorro equilibrada, que dava amor, carinho e biscoitos para seu bichinho de estimação, sem passar dos limites (como aquela galera disfuncional que… bem… vocês já devem ter visto uns donos de cachorro nonsense por aí). Filhos, ela já tinha eu e meu irmão.

Floyd (sugestão minha, lembrei de ‘Floyd the barber’, música do Nirvana) foi um cachorro feliz. Sem crianças em casa, reinava absoluto como o filhote naquele apartamento da Gavião Peixoto. Não podia ver alguém tomando café da manhã que se prostrava do lado da mesa, latindo feito um cão faminto, querendo pão, biscoito ou o que a gente estivesse comendo – mesmo que já tivesse enchido o bucho de Frolic há poucos momentos. Eu, coração mole, nunca negava – e mesmo depois de anos que eu já tinha saído da casa da minha mãe, ele ainda me reconhecia como aquela pra quem ele podia pedir o que fosse, que ganhava. Quando alguém chegava em casa, Floyd se metia a latir desesperadamente já com o barulho das chaves na portaria – e isso, porque morávamos no terceiro andar. Ô, ouvido de cachorro!

De uns tempos pra cá, suas faculdades de reconhecimento estavam seriamente comprometidas: era mais difícil fazer cafuné em Floyd, que latia e rosnava pra gente, estranhando aquelas pessoas. Latir quando alguém se aproximava era tarefa do cachorro do apartamento vizinho. Ir à casa da minha mãe me deixava um pouco triste, confesso: praticamente um ancião de quase quinze anos, ultimamente sentia dificuldades até de se levantar. As patas dianteiras davam o impulso, e as traseiras praticamente se arrastavam. Reclamava das dores, à sua maneira: uivando e latindo.

As últimas semanas devem ter sido muito ruins, porque minha mãe estava bem transtornada. Parece que as reclamações estavam piores, mais constantes, isso quando ele tinha forças para se manifestar. O veterinário já tinha seu veredito, mas a decisão de acabar com o sofrimento de Floyd deveria ser da minha mãe – que, depois de ver nosso cão tranquilo e em paz com o sedativo dado pelo sujeito que dava banho e tosava desde filhote, não teve mais dúvidas: dar um fim ao sofrimento do bichinho é a melhor alternativa nessas horas, né?

Estamos todos tristes, mas tenho certeza de que lá no céu dos cachorros tem Biscrok à vontade e torradas quentinhas pra você se divertir, amigão.

Descanse em paz, e obrigada por confiar em mim todos esses anos.

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