Mais trabalho. Mais festival de cinema. Mais shows bons. Dormir que é bom, necas
O filme que consegui ver domingo, “Investigação sobre o mundo invisível”, é um documentário paradão sobre as crenças dos islandeses em toda sorte de seres imaginários – eu disse crença? Bem, eles afirmam VER coisas. Deve ser realmente alucinante viver num país frio pra dedéu, onde a natureza permanece intocada e onde as crenças não foram abaladas pelo pensamento católico ocidental – até eu veria gnomos numa situação dessas. Pensando bem, não estou longe disso. O mais surreal são os depoimentos de autoridades políticas afirmando que não vêem elfos mas respeitam suas moradias na hora de construir estradas e o do pesquisador de fractais chamado Ananda (!!!), que fala de ciência como se fosse um guru new age. Freak pacas.
Gostaria de ter visto outros, mas lá fui eu enfiar a cara nas 300 páginas de resumos da Semana de Extensão de uma conhecida universidade federal, que merecia um spam daqueles de “erros de português”, “respostas bisonhas em vestibulares”, de tantos absurdos que nego escreve.
À noite, pra descansar a vista, showzim do Canastra e exposição emocionante de zines, com cada coisa do arco da velha levada pelo Lariú. É que eu passei por isso, tive zine impresso, troquei zines pelo correio, e me surpreendi com coisas lin-das como uma edição da Panacea ainda em xerox, fininha (a que eu tenho em xerox já estava gorda e cheia de anúncios, prenúncio da revista que eles virariam logo).
Sobre o Canastra, aguardem a próxima edição do zine Tarja Preta. E vão aos shows, pô. Você mora no Rio? Essa terça tem Canastra no Sérgio Porto, e é uma bela chance de quem perdeu o show de domingo conferir como a banda é foda.
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E o filme de hoje foi “De-Lovely”, biografia musicada de Cole Porter, e tudo parece pequeno depois dessas duas horas e meia.
Você conhece Cole Porter, certo? Já ouviu suas melodias e leu suas letras, não é? Não, a ‘cover do U2’ não vale, é pra ouvir com cantores de jazz ou atores de musicais (embora eu admita que meu primeiro contato com ele foi mesmo o ‘Red Hot & Blue’, aquele tributinho fantástico que leva de Tom Waits a Les Negresses Vertes, passando por David Byrne e Iggy Pop). E aí, ouviu? Soulseek. Google. Vai lá, eu espero você voltar.
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O filme é um romance musical sobre um compositor foda de musicais e a grande mulher por trás dele. A história fica menos clichê quando o compositor é ninguém menos que o sujeito que escreveu “All of you”, “Let’s Do It”, “Night and Day” e várias das músicas mais lindas da história da música popular norte-americana. Menos clichê ainda quando o romance tem algo de não convencional. Mais foda ainda quando gente como Robbie Williams, Elvis Costello e Diana Krall, a insípida da Alanis Morissette – que só precisava mesmo de uma música boa no repertório pra ganhar algum respeito, ela ficou excelente no filme, sério – e um irreconhecível Mick Hucknall emprestam suas vozes às músicas do mestre. Pra tornar tudo mais perfeito, Kevin Kline e Ashley Judd estão sensacionais (tou sentindo cheiro de ‘Academy Award Nominated’ aí), também soltam suas vozes e fazem muito bonito.
É claro que se você não é um entusiasta de musicais e de todo esse universo cinema-espetáculo-tudo-é-fake e não tem nenhuma ligação emocional-neurótica com a música de Cole Porter, periga achar o filme muito mais ou menos, então nem recomendo. Mas eu vou ver de novo quando entrar em circuito, e de novo, de novo, até encher o saco e parar de chorar.