O PBS Kids é um portal infantil com atividades educativas para crianças, teletubbies, barney (o dinossauro roxo) e muitas outras criaturinhas fofas criadas com a falsa pretensão de educar a petizada, mas que na verdade só ajudam a transformar crianças em retardados mentais. No entanto, uma boa pesquisa em suas páginas internas ajudará a encontrar atividades interessantes para que professores possam, por exemplo, ensinar as crianças que o mundo não começou quando elas nasceram, e incentivar a pesquisa da história da sociedade em que vivem, olha que beleza! Eu já conhecia esse portal de uma época em que trabalhei num site infantil, mas não conhecia essa seção que o Daniel me passou ontem, e minhas esperanças na humanidade até cresceram:

DON’T BUY IT

Não é um site anti-consumismo, até porque vivemos numa época onde é impossível não consumir nada – e, sinceramente, voltar à economia de subsistência seria dar um passo para trás. Mas com testes, brincadeiras e uma interface bem agradável para o público-alvo do site (crianças e pré-adolescentes), o site ensina a não cair em armadilhas de propaganda, ajudando a formar um consumidor consciente justamente na idade em que este tipo de consciência se torna importante, já que faz parte da vida da maioria dos pré-adolescentes classe média/alta com acesso à internet aquela auto-afirmação que só pode ser conseguida com a aceitação em grupo pelo que você tem ou usa, e não pelo que você é ou pensa (até porque, em geral, a maioria nessa idade pensa bem parecido).

[auto-ironia mode on] Aí depois nego cresce e vai ler Naomi Klein, virar fã e entrar em crise porque contribuiu demais para o trabalho semi-escravo mundo afora [auto-ironia mode off].

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Ontem eu saí do trabalho como de costume, passei pela Nossa Senhora de Copacabana como de costume e parei na padaria de sempre para o almoço às seis da tarde, o que não é lá muito comum, como não era comum a aglomeração na frente da tevê ligada no jogo. Umas vinte pessoas paradas assistindo umas pessoas correndo atrás de uma bola, e rolou um gol e todo mundo parado olhando, como se não fosse com eles.

Como assim um gol não produziu emoção alguma naqueles aficcionados por futebol?

Terminei meu lanche e continuei andando pela Nossa Senhora de Copacabana, onde encontrei mais uma aglomeração vendo o tal jogo, dessa vez numa banca de jornal. Nesse grupo havia um conhecido, um chileno caído de pára-quedas no Rio de Janeiro (cacete!! o cara não morre tão cedo!! acabou de aparecer aqui) que me explicou que aquele era um jogo da Eurocopa.

– Nossa, mas tá todo mundo vendo, é final?

– Ainda não.

– É algum time que vai jogar com o Brasil?

– Errr, não, é Eurocopa.

– Ah, é, foi mal.
(ô, gente, não entendo MESMO de futebol). Pô, bom jogo aí, cara! – e segui meu caminho, pensando.

Não era uma final. Não era de nenhum time que jogaria com o Brasil. Ninguém estava torcendo para nenhum dos dois times. Era MESMO um jogo tão interessante assim pra Copacabana inteira acompanhar e eu é que sou uma alien que não dá a mínima pra futebol? Dois tempos de 45 minutos sem receber nem produzir nenhuma informação, e nem pra se emocionar com seu time do coração jogando, eu sei que é comum, mas é normal? Será que nego estava apenas fazendo o aquecimento do tubo de imagem para se preparar para o grande evento televisivo da semana (último capítulo de Celebridade, HOJE, que eu não vou ver porque já não vi nenhum capítulo mesmo, mas que já sei que metade do país vai parar, minha mãe não vai atender o telefone, todo mundo quer saber quem matou Lineu e daqui a uma semana o assunto só será comentado na coluna do Artur Xexéo porque todo mundo já vai ter esquecido)?

Bah. Quero minhas cobertas de volta.

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[update] Ah tá. Entendi. Felipão. Ok. Não está mais aqui quem falou. Mas isso justifica toda essa comoção brasileira em torno da Eurocopa? Pra mim não justificava nem nos jogos daqui..

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Deu na Folha: “Saudade é 7a palavra mais difícil de traduzir”. Confira no artigo as outras seis.

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