LOCK ‘N’LOLL!!!!! AAAAAHHH! LOCK’N’LOLL!!!!
Punk rock não é limpinho nem bem tocado – até onde eu sei, o punk rock existe porque uns malucos (um tal de Velvet Underground, um tal de Stooges, uns caras que realmente levavam um estilo de vida que pode se chamar de punk) fizeram um sonzinho meio mal tocado nos anos 60, e provaram que qualquer um com um mínimo de coordenação motora podia tocar e ser legal, desde que sentisse o que estava tocando, sentisse as batidas secas da bateria, transmitisse vida e emoção no palco. A técnica? Nenhuma. Quaisquer três acordes já estavam valendo.
No future
Nos anos 70, a fórmula do punk rock foi descoberta e divulgada. Aquela geração não queria mais a lisergia do progressivo, queria um som que transmitisse a energia que os jovens da época sentiam. Em vez de solos enormes, letras que falassem de seu cotidiano, de drogas, de mulheres, carros e alguns até se aventuraram a falar de política depois. Mas foi só depois – no começo, foi a volta ao básico, aos três acordes do primeiro rock’n’roll. Mais sujo e distorcido, é verdade, porque aquela geração não era mais tão inocente quanto a geração que vivia o tal ‘sonho americano’ – eles viviam uma realidade bem dura: mesmo para os mais abonados, de que adianta ser filhinho de papai, ter grana, ter oportunidade de estudar, se você não vislumbra um futuro?
Então..
Então o tempo passou, o gênero evoluiu, e até hoje tem um público considerável entre os jovens que precisam de um som que ajude a dar vazão a toda a energia que sentem. Precisam pogar, precisam se jogar do palco, precisam espancar a bateria – mas uns são mais limpinhos e cheirosos que outros, outros são mais politizados, outros são completamente acéfalos, outros só querem saber de diversão, alguns têm até uma roupa moderninha e usam instrumentos mais atuais, mais eletrônicos – mas, sabe? Tem faltado punk rock no punk rock. Falta simplicidade, falta tosqueira, falta vocalista se jogando, falta pose, presença de palco, falta o espírito de “pega uma guitarra aí e te vira, mané. Vai fazer em vez de reclamar que o rádio não toca o que você gosta de ouvir. Não se preocupa, faz de qualquer jeito mesmo”.
Quer dizer, faltava..
Porque a Terra do Sol Nascente nos deu Seiji, Billy e Toru, três alucinados que tocam bem pra cacete mas fazem um disco com o volume no talo só pra dar o maior nível de distorção já ouvido num disco. Japonês tem disso, né? Nerd japonês é MUITO nerd, topete de rocker japonês é muito mais exagerado que os nossos, góticas japonesas são bem mais Vitorianas que as nossas, meninas que parecem bonequinhas japonesas realmente se transfiguram de tanta fofura até virarem a própria Hello Kitty. Punk japonês realmente exagera – e isso é Guitarwolf.
É o rock básico e tosco, onde as únicas firulas são as presepadas do Seiji, que arrisca sua saúde subindo num amplificador completamente bambo ou tocando o show inteiro de calça e jaqueta de couro. No Rio de Janeiro. É, o sujeito pingava – mas parecia não estar nem aí, fez o show inteiro, voltou para o bis e ainda voltou para um segundo bis, sozinho, cantando uma balada de amor. Ou algo parecido.
E o espírito de “faça você mesmo, do jeito que você sabe” esteve presente do começo ao fim – até quando Seiji puxou um sujeito do palco, colocou sua guitarra no cara, fez um ritual de transferência de palheta e botou o cara pra tocar – e o homem não emitia um acorde sequer, só segurava o braço do instrumento e dava palhetadas desritmadas onde só se ouvia a distorção da guitarra – Billy e Toru seguraram bem a falta de jeito do rapaz, porque ainda assim havia ritmo. É, Guitarwolf não é só sujeira, é música acima de tudo.
Só não dá pra cantar junto, né? Porque as letras são incompreensíveis. Pensei ter ouvido “Fujiyama Attack” lá pelo meio do show, era o mesmo som, mas o que saía da boca do vocalista era algo muito estranho – o mesmo algo estranho que faz o hit “Jet Generation” virar “Jetto Genelation”, que faz com que você apenas entenda os refrões, como “Teenage UFO”, porque é o mesmo título da faixa que está impressa no cd, que faz com que você não entenda uma linha de “Summertime Blues”- e não é apenas sotaque. O cara realmente perde a linha como você nunca viu – e, se você não esteve nos shows desta turnê, certamente não vai ver tão cedo, porque sai caro trazer japonês para o Brasil.
E eu, que achava que já havia visto de tudo, tive a sensação que os quase três anos de espera desde que infectei o cd player com “Jet Generation” pela primeira vez valeram muito a pena. 2003 já está no fim, né? Então tá, bora chamar isso de “melhor show do ano” (e o aquecimento com os Autoramas, de quem eu nem preciso mais falar – quem lê isso aqui sabe que eu adoro a banda desde, errr.. começo de 98 – foi fundamental. não dá pra esquecer que a primeira pessoa que mencionou Guitarwolf pra mim foi o Gabriel, ali na porta da Bunker, cantarolando “Energy Joe” -ou “Enelugi Joe”, heh – fazendo com que essa dobradinha de hoje se tornasse realmente perfeita).
Isso é punk rock. O resto é música de ninar.

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