..e a gente aqui discutindo indie!!

– Eu sou pós-punk, minha filha!

Assim dizia meu pai, no auge das calças baggy roxas-metalizadas, enquanto se arrumava para sair com sua namorada vestida de Gang Rio e Yes, Brazil, em meados dos anos 80. Para onde eles iam? Morro da Urca, lógico! Eles foram ao Rock in Rio e eu fiquei em casa. Lógico, eu tinha sete anos. Pra mim, era época de colecionar tirinhas d’As Cobras da Revista de Domingo, de assistir Realce na tevê e de, do alto de toda a minha inocência pueril, fazer trabalhinhos manuais em casa.

Como o quebra-cabeça que fiz para meu pai, com uma foto do Crepúsculo de Cubatão.

Papai guarda isso até hoje.

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Na minha cabeça, “pós punk” tinha algo a ver com aquele rock pauleira do Gilberto Gil, “Punk da Periferia”, que dizia “sou o punk da periferia/ sou da Freguesia do Ó, Ó, óóóó/ aqui pra você!”. Mal sabia eu que um dia iria namorar um rocker topetudo da Freguesia do Ó; que meu pai casaria com essa namorada e teria uma filha linda; que Gil NÃO ERA PUNK; e que meu pai estava tirando sarro da minha cara quando dizia isso – as coisas se misturaram na minha cabeça de tal forma que só hoje, lembrando desse rótulo esdrúxulo – papai era, na verdade, new wave.

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Nessa época, ele ouvia Obina Shock. Por deus, alguém lembra de Obina Shock? Qual é a média de idade de quem lê isso aqui??

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Os anos 80 tinham lá seu valor!

Nem tudo estava perdido: papai também tinha um lado meio cool anos 80, uma coisa assim meio filme do Jonathan Demme, que hoje percebo que herdei dele: essa coisa meio yuppie de ouvir Peter Gabriel, Nouvelle Cuisine e Tin Machine, de ser fã do Altman e do Cronenberg daquela época.

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Outra coisa que herdei daquela época foi o senso de humor da Chiclete com Banana e da Circo: eu era novinha, não entendia lhufas, mas já lia assim mesmo. E fui me preparando para lidar com a realidade cínica e sarcástica de um adulto nos anos 2k.

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Momento Autocrítica

Dá pra entender agora que meus óculos pretos de aro grosso não são óculos-de-indie, e sim dos tipinhos inúteis, aquela série de personagens supostamente vanguarda paulistana do Angeli?

Ahn, bom.

Então é isso.

Eu sou um tipinho inútil.. por que algumas pessoas se preocupam tanto com minha vida, afinal?

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