– Boa tarde, poderia falar com o sr. Antonio Carlos?

– Ele não se encontra.

– Ele é o responsável pela linha telefônica?

– Sim, está no nome dele, mas ele não reside aqui.

– No lugar do sr. Antonio Carlos, a senhora é responsável pela linha telefônica?

– Pode-se dizer que sim.

– Qual o nome da senhora?

– Lia.

– Senhora Lia, meu nome é Luana, eu trabalho na Telemar, e gostaria de avisar que estamos com uma parceria com a Americanas.com, e juntas a Telemar e a Americanas.com estão oferecendo um identificador de chamadas..

– Luana, desculpe interromper, mas você está ciente de que um identificador de chamadas pode acabar com seu trabalho? Falando por mim, eu passaria a só atender ligações de números conhecidos, da minha família.

– Pois é (risadinha sem graça), mas é meu dever oferecer o identificador de chamadas..

– Eu sei, Luana, eu te entendo. Mas, enfim, se eu comprar o identificador, não posso te atender nunca mais. Melhor não, certo? Um abraço, boa tarde e um bom fim de semana pra você.

* * *

De como escapei de protagonizar um filme do Wes Craven em minha própria residência

Eu queria ter ido à Spin ontem. Teve festinha hard rock. Na verdade, estou morrendo de inveja de quem foi, mas – vejam bem – há coisas que só acontecem comigo. Lógico.

* * *

A programação de ontem era pub seguido de Spin. Porque o pub é caminho e meus amigos estariam lá. Sete, sete e meia – mas às oito da noite, eu estava resolvendo problemas com o síndico.

É, acontece.

Ontem, enquanto me dirigia lépida e fagueira para o banho que me deixaria limpinha, cheirosa e fresca como uma rosa para encontrar os pessoal, espeto o pé num caco de vidro.

Peraí, eu moro sozinha. Nunca quebrei um copo aqui em casa. A paranóia de não estar tão sozinha quanto eu imaginava me invadiu de imediato – mas, obviamente, as coisas acabaram ficando piores ainda.

Depois de mais de duas horas em casa foi que notei que o vidro do basculante do meu banheiro sofreu um acidente: uma obra num apartamento de cima fez cair um reboco que acabou com minha janela – cacos de vidro estilhaçados pelo chão, assento do vaso sanitário rasgado, tamanha a violência com que os cacos atingiram meu banheiro.

Você não está falando com qualquer um.

Eu sou Lia, a rainha da imaginação fértil.

Imediatamente, pensei que as coisas poderiam ter sido muito piores, se eu tivesse tido uma dor de barriga infernal por volta das duas da tarde e pedido pra vir rapidinho em casa aliviar o intestino.

Certamente, meu pescoço teria sido atingido por um dos cacos grandes que voaram aqui dentro. Imagine eu, sentadinha no troninho, ensangüentada. As meninas no trabalho estranhariam minha demora e ligariam – sem retorno. Minha chefe viria até aqui, achando isso tudo muito estranho – e não quero nem imaginar as reações das pessoas ao me verem nesse estado.

Deve ser constrangedor morrer assim.

Pelo menos eu estaria sorrindo, porque ando lendo “A Vida, o Universo e Tudo o Mais”, do Douglas Adams, e a cada página que passa a saga de Arthur Dent e Ford Prefect fica mais surreal e mais interessante.

Mas ainda bem que eu não vim em casa, e tive apenas que arcar com o fato de que acordaria às oito para que o vidraceiro, pago pelo condomínio, trocasse minha janela.

* * *

Então, considerando que eu não dormiria se fosse à Spin, fiquei só pelo pub mesmo, tempo suficiente para, junto com Madame Lilaise de Oxum, ajudar o Fabio na faxina – e com uma mãozinha de DeGabrig, ajudar no conserto da fechadura do estabelecimendo.

Sabe, talvez tenha sido uma boa troca – não é todo dia que.. xapralá.

O fato é que estou achando que essa noite vai render, e vocês terão assunto novo por aqui. Assunto novo, legal, e de gente feliz.

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