Wim Wenders e Aprendenders
Vocês que acompanham isso aqui há dois anos devem saber que eu moro sozinha há pouco tempo – oficialmente, desde novembro de 2001, embora tenha começado a me mudar aos poucos desde antes. Não sou rica, não tenho empregada, não pago marceneiro nem pintor, minha casa é minha minha minha. Desde as vitórias até as derrotas, como a de hoje que eu SEI que vai deixar marcas.
Já amadorei muito, mas cada grande cagada que eu faço é um aprendizado – desde consertar privada, matar barata, trocar lâmpada, montar estante, instalar suportes, utilizar furadeira em azulejo, primeiro arroz, o melhor macarrão, histórias de faxina e por aí vai. Se liga, tudo isso vai virar uma seção do Conga Conga Conga. Espero ser de grande ajuda para o pessoal que também está aprendendo a se virar.
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Acontece que ontem fiz meu primeiro feijão. Só pra constar, ficou gostoso. Não tenho panela de pressão, meu fator Amancio não permite – tenho pavor de explodir na minha mão. Gah, não gosto de não poder acompanhar o processo de cozimento. Catei o feijão, lavei, joguei na panela com água e temperos e fiquei esperando – de vez em quando eu ia lá mexer, ver como o bichinho estava. Tenho uma pequena deficiência de ferro no organismo, então aprender a fazer feijão é uma vitória.
Liguei pra mamãe, que ficou monitorando lá de Niterói. “da próxima vez, deixa ele de molho já de véspera, pra ficar molinho” “não jogue a água fora, é nela que estão os nutrientes” “mas mãe, eu nem deixei de molho!” “fez muito?” “fiz” “guarde em potinhos separados no congelador. Você temperou com cebola, fica gostoso, mas cebola azeda”.
Ok.
Guardar no congelador.
QUE CONGELADOR?
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“Ih, mãe, vou ter que descongelar a geladeira”.
“Tranqüilo. Quando foi a última vez?”
“Errrr.. eu nunca descongelei a geladeira.”
No começo me pareceu fácil, você tira tudo o que tem dentro, joga os potes de maraschino sem cereja fora (lembra? eu coleciono eles sem querer, uma vez eu contei sete na geladeira, acabei jogando todos fora), desliga da tomada, e 24h depois descobre uma caixa de hamburguers de frango congelados desde janeiro de 2002, e algum espaço de sobra.
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Tsunami
Todo mundo já teve o pesadelo de uma grande onda. Diz um amigo meu que isso são lembranças de quem viveu na Atlântida, não o estúdio, mas o continente perdido. Eu acho que é imaginário coletivo criado por tanto filme de desastre. Enfim. Tive a premonição do Desastre e comecei a me prevenir para o fim dos tempos:
“Meu anjo, me deixa ali na frente do Pão de Açúcar? Preciso comprar uns panos de chão extras.”
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Funciona assim, toda geladeira tem o gavetão embaixo, que serve – entre outras coisas – pra guardar a água que escorre. Eu SEI disso. Inclusive meu garoto me lembrou disso antes de sair daqui. O problema é que eu não contava com o grande bloco de gelo, que fez com que a gavetinha debaixo do congelador pesasse na minha mão e caísse antes que eu pudesse tirar a tampa do gavetão, que serviu de aparador para toda aquela água que, como a Tsunami, espirrou para todos os lados. Assim, inundou a casa. Só isso.
Em questão de segundos, revi toda a história da geladeira, peguei os panos de chão e um balde, e como numa edição frenética de programa de esportes de TV por assinatura, com “Wipeout” de trilha sonora, impedi a água de avançar. Ou pelo menos, tentei. Nunca agradeci tanto esse calor puto que faz no Rio no verão, a água parou de escorrer e boa parte do chão já secou.
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Mas meu feijão ficou gostoso e nutritivo, meu primeiro feijão. E agora pode até ser congelado. E é isso o que importa.