..e finalmente consegui assistir a “Sapato Musical” antes que saísse de cartaz.
Não posso dizer que a peça me influenciou a alguma coisa, uma vez que parece até que eu fui influência para a história da garota que, influenciada pelo pai, cresce fã de musicais da Metro, em especial os de sapateado, e espera pacientemente seu Fred Astaire. Até os óculos ovais de aros grossos que a protagonista usa me lembraram os meus. Até o fato de, um dia, ser obrigada a achar sua fé em algo, bem, até isso eu colocaria no pacote – lógico que essas crises existenciais são passadas para a petizada com muitas gracinhas e músicas, mas a gente sabe bem como é isso.
A diferença fica no fato de que na peça, todo mundo é realmente sem-noção. A garota realmente pira e vive a realidade dos filmes que ela gosta, mas ela surta, ela é esquizofrênica, fica frente a frente com Deus, entra no filme do Mágico de Oz e, como é um musical infantil, ninguém diz que ela é maluca. Tudo bem.
O mais legal é que a ala de meia idade pra cima identificava uma ou outra referência mais pop, “Singing In The Rain”, “The Way You Look Tonight”, mas eu pesquei “Swing time”, o Vô Jongo (claríssima referência a Bo Jangles, que inclusive é citado em “Bojangles of Harlem”, filme/música-tema com Fred Astaire) e várias outras – coisa de quem tem isso como objeto de devoção e pesquisa. Ou seja, estou achando que não tem muita diferença entre eu e a guria da peça não…
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À noite, foi a vez de “Madame Satã”.
Minha pessoa precisa falar mais alguma coisa sobre a drag mais macho do Rio de Janeiro? Sobre o fato de que a rainha da Lapa era pobre, fudida, mas era um poço de cultura e tirou seu codinome de um filme de Cecil B. deMille? Há alguma coisa sobre os diálogos perfeitos e altamente espirituosos que ainda precise ser dita? Tem necessidade de falar qualquer coisa sobre a trilha sonora, cheia de sambinhas da época em que se dançava coladinho, e não com bundas gelatinosas rebolando ao vento? Você sabe que o filme é aquela fase da vida de João Francisco dos Santos antes de virar o homem, o mito, a lenda, não sabe?
Bem, precisa dizer sim. Precisa dizer que, logo de cara, você ouve “Nuit D’Alger”, de Joséphine Baker, na voz da Renata Sorrah – e que na verdade, se João Francisco dos Santos é Madame Satã tal qual conhecemos/imaginamos, é porque ele é fã de Joséphine, a mulher mais perfeita das galáxias – e espero em deus que o filme traga à tona o interesse pela dançarina/atriz/cantora americana radicada na França, aquela do sorriso lindo e da saia de bananas. Por que, sabe, eu gostaria de ter assunto com as pessoas, e às vezes me parece que só eu gosto de Joséphine Baker por essas bandas. Mas gosto mesmo.
Se o artigo que escrevi sobre Joséphine (antes de saber que ela é altamente citada no filme mais hype do mês) não sair essa semana, me cobrem que eu posto o link direto aqui. Mas por enquanto, fiquem com a página de fotos da belezura. É o tipo de página que vale a pena ter no bookmark e no coração.
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Vem cá, o fato de ter um emprego fixo numa empresa que se orgulha de estar crescendo e de que as duas únicas pessoas que saíram em alguns anos foi porque quiseram; de morar sozinha, saber me virar sozinha e ter meu próprio apartamento, onde não pago aluguel; o fato de saber (e gostar) de ler e escrever; ter um gosto musical variado/diferenciado e uma gama de referências culturais, digamos, abrangente; de ter passado por situações difíceis durante a adolescência e superado com maestria; definitivamente não ser baranga nem mal ajambrada, falar dois idiomas além do português, manejar furadeira, guitarra, castanholas, fogão; gostar de sexo hardcore.. afinal, isso assusta as pessoas? Ou os meus padrões de relacionamento (e no caso, estou falando apenas de amizades e pessoas que eu deixo entrarem no meu mundo/ na minha casa) é que são altos demais?
De fato, meu círculo social está cada vez mais restrito (periodicamente faço uma faxina e deixo pouca gente), e o afetivo, então, vai a zero (os caras fogem ou não se aproximam. Minto. O último que se aproximou, há umas duas semans, tem algo que eu considero um problema SÉRIO e por isso não me deixo envolver).
É sério, gostaria muito de uma opinião sobre o assunto. Alguém se habilita?
(como diria a Cecilia na época do Consultório, “se não der certo, pelo menos não paguei consulta”)