Vocês estão felizes?
Eu estou.
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Não sou consultora sentimental, mas nas últimas semanas recebi alguns e-mails tipo “terminamos há meses e não sei o que fazer”, “me ajudem” e coisas do gênero.
Vem cá, eu sou TÃO digna de confiança assim?
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Ontem rolou um momento nostalgia. Não aquela nostalgia dos anos 80, onde crianças de 20 e tantos anos ficam lembrando compulsivamente de ítens que fizeram a alegria da petizada durante o mandato do Figueiredo – aliás, isso teve ontem também – mas a nostalgia da Panacea, da General, das boas revistas de música e variedades do início dos anos 90.
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A Panacea foi meu primeiro contato com o mundo dos zines. Acho que foi em 92, durante a Bienal de HQ ali no Espaço dos Correios, por favor confirmem a data. Passeando por ali e sem grana pra torrar em revistinhas do Batman, tinha aquela revistinha toda feita em xerox com uma baita ilustração do Lourenço Mutarelli na capa, junto com as chamadas pra matérias sobre RPG, grunge rock (eles falavam do Mudhoney!!), festivais de música independente e outros assuntos que me interessavam mas as revistas que eu lia na época nem se davam conta disso (a Bizz só falava de música, e nem queria saber de HQ e RPG, e a Capricho, bem, a Capricho…). Era tudo o que eu queria reunido numa só revistinha, barata e bem fornida, pena que Niterói era o cu do mundo e eu nunca ia achar um negócio desses por lá.
Até, é claro, a Panacea evoluir e chegar ao formatão com capa colorida. Tenho até hoje a do Neil Gaiman que comprei naquela banca na frente do Campo de São Bento.
Infelizmente, foi uma das últimas.
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Depois veio a General. Será que nunca falei dela aqui? Era uma revista DE VERDADE, distribuída em banca, com espírito de fanzine: falava sobre tudo e todos, falava sobre nerds quando ser nerd ainda não era ser cool, falava de bandas novas, pop, underground, falava de comportamento, de cyberpunk, da Guiana Francesa, das novidades pop que vinham do Japão, de atrizes pornôs, editoriais de moda “descolados”, Daminhão Experiença, grupos ativistas de extrema esquerda, Pato Fu.
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Espírito Punk, por incrível que pareça
Até que durou bastante, mas acabou. Deixou saudades, e a vontade de fazer a minha própria revista (aquele zine com o anão da Ilha da Fantasia na capa, nome de música da Gretchen, letras traduzidas do Weezer e o teste “você é nerd?”). Que não durou nesse formato por falta de recursos para impressão decente e distribuição, mas assim que descobri que podia jogar minha revista de variedades na internet, pra atingir exatamente o público que eu queria e a custo zero, aprendi html na marra e comecei a brincar.
Pois é, em vez de ficar reclamando que não tinha veículo de comunicação falando sobre o que eu queria, fui lá e fiz (olha a primeira versão do Conga Conga Conga, aqui). Estava tosco ainda, mas era o que eu queria, do MEU JEITO, e por incrível que pareça, tem gente que se identifica.
Admiro muito esse pessoal que não gosta de nada que está aí em matéria de música, cinema ou literatura, mas em vez de reclamar, vai lá e FAZ. Posso até não gostar do resultado, mas acho foda esse espírito de Do It Yourself.
Me emociona saber que tem gente que se mexe.
Me emociona saber que tem gente que se lembra dessas coisas e se mexe por causa delas. Pessoas que têm projetos, que colocam esses projetos em prática. Pessoas fodas, pessoas inteligentes, pessoas que transformam isso num modo de vida – e não apenas conseguem sobreviver disso, mas também viver confortavelmente. Pessoas que ainda não conseguiram isso, mas estão quase lá, enfiaram na cabeça que vão e eu sei que vão conseguir.
Estou torcendo por vocês, e ajudo no que for possível, ok?
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Hein? O Flautista de Hamlet, desenho da Disney baseado num conto de Shakespeare?!?!?!?!