Conga Conga Conga: uma história de comunicação, cultura digital e do it yourself


Este post foi originalmente publicado no dia 29 de maio, aniversário da Gretchen. Por algum motivo que desconheço completamente, o post SUMIU dos registros do servidor de hospedagem. Foi compartilhado nas redes sociais por mim e pelo amigo Ricardo Schott, do site PopFantasma (https://popfantasma.com.br)… e sumiu. Mistério…

Bom, segue a história. É boa. 

Fui adolescente durante os anos 90. Descobri o indie e o punk rock pelos amigos e alugava os CDs na locadora aqui perto para gravar em fitas cassette e ouvir no walkman (não sei como vou explicar isso para minha filha um dia). Descobri que os garotos da minha sala jogavam RPG, mas só fui convidada para jogar bem mais tarde, num grupo que era mais amigável à presença de meninas do que o dos moleques de 14 anos. Descobri o cinema independente em casa mesmo, e passei a frequentar o Cinema da UFF e o finado Estação Icaraí. E fui introduzida aos quadrinhos adultos e graphic novels pelo meu pai, que fez o favor (que até hoje agradeço!) de me levar à minha primeira Bienal de Quadrinhos no longínquo ano de 1993.

Sem muita verba para comprar aquelas HQs incríveis (tudo bem: meu pai comprava para ele, eu lia, e acabei herdando várias), saí de lá com uma revistinha baratinha em xerox P&B que falava de quadrinhos, música e RPG – a Panacea, que descobri ser um fanzine, e algum tempo depois virou revista e chegou até as bancas de Niterói! Sem internet na época, e sem conhecer quem gostava daquilo na minha cidade, aquele fanzine era minha fonte de informações sobre tudo o que importava aos 15 anos. Eu não frequentava as bancas do Centro do Rio porque não frequentava o Rio. Eu só sabia que havia descoberto algo muito legal.

Mais tarde, já na faculdade, tive a oportunidade de ir ao Zine Mutante, um evento incrível que rolou no CCBB-RJ. Conheci o Moacy Cirne, professor da UFF e autoridade no assunto. Já com internet, entrei numa lista de discussão sobre zines, comecei a trocar ideias (e fanzines) com outras pessoas. Colaborei com um projeto de zine online (o Lao), escrevendo sobre desenhos e memórias dos anos 80. Descobri, fazendo uma pesquisa sobre pop art na faculdade e trocando e-mails com gente do mundo todo sobre os conteúdos que eu encontrava, que pessoas comuns podiam criar conteúdo sobre seus assuntos de interesse e publicar online. Então me animei e montei um site sobre o Dschinghis Khan, aquela banda que cantava “Dschinghis Khan” e “Moskau”, porque não conseguia encontrar informações sobre eles em lugar algum. Acabei recebendo e-mails de gente do mundo inteiro, me agradecendo por compilar informações tão valiosas.

https://youtu.be/paiQRSpg4Aw

Então comecei a fazer meu próprio fanzine. Que não sei por onde anda, então não tenho como fotografar para vocês. Mas se chamava Conga Conga Conga. A primeira edição trazia Hervé Villechaize, o Tattoo da Ilha da Fantasia, na capa.

“Patrão! Patrão! O avião! O avião!”

Por causa do Conga Conga Conga, fiz amigos. Por causa dele, cobri eventos, publiquei textos na revista do Planet Hemp e, posteriormente, na Rolling Stone Brasil. Por causa dele, aprendi a diagramar – usei muito Pagemaker na vida. Por causa dele (para economizar em xerox e aumentar o alcance) aprendi a fazer sites. Primeiro, html e Front Page, subia por FTP no Geocities e tudo certo. Depois, no Dreamweaver. Sempre achei Flash meio ruim, porque nunca funcionava muito bem em todos os navegadores – mas aprendi a fazer gifs animados na primeira onda dos gifs animados. Por causa deste site, fui contratada de carteira assinada pela produtora onde eu estagiava assim que me formei, para fazer o site da empresa e um site infantil que em 2001 já era marketing de conteúdo – muito antes da maioria dos leitores deste texto saberem o que é marketing de conteúdo.

Em 2001, usei meu primeiro CMS (o Blogger, né, amores? Antes mesmo de ter um .br no final).

Sim. Ajudei a colonizar a internet, como a conhecemos hoje.

Desde então, vivo pesquisando novas tecnologias e encontrando soluções em conteúdo – seja no digital, seja offline. Fiz uma pós-graduação e diversos cursos livres nas áreas de design thinking, inovação e comunicação. Propus inovações em formatos digitais de aprendizagem junto a equipes de TI, fiz live de evento pelo Twitter em 2008, me adiantei alguns anos na tentativa de implementação de um projeto de vídeo por demanda na distribuidora onde trabalhei (que não foi pra frente pois ainda não existia regulamentação na área de vídeo por demanda – chegamos antes).

Se cheguei onde cheguei, foi em parte por causa do Conga Conga Conga.

Parabéns e obrigada pela inspiração, Gretchen.

<3