Entrevista com seu futuro eu – e os problemas do vídeo na internet


As queridas Beth Salgueiro e Patricia Della Nina compartilharam um negócio formidável hoje: um post de um blog do jornal O Globo com um vídeo de um sujeito chamado Jeremiah McDonald – que, quando ainda era um sujeitinho de 12 anos, gravou uma fita vhs com umas perguntas (e, eventualmente, umas respostas e interjeições de espanto) para si mesmo, para que respondesse no futuro.

Pois o futuro chegou, McDonald achou a tal fita e respondeu as tais perguntas:


http://youtu.be/XFGAQrEUaeU

Não me espanta que o moleque tenha virado cineasta/videomaker. Perceba que ele grava também algumas respostas e interjeições que, em algum momento, encaixam com as respostas de seu futuro eu.

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A matéria é interessante, o vídeo é formidável, mas talvez seja mais interessante ainda (será?) refletir sobre a impossibilidade disso acontecer de novo. Um moleque que se grava em vídeo hoje provavelmente não terá onde assistir o que gravou daqui a vinte anos, simplesmente porque os formatos de vídeo mudam, os encodings mudam, as mídias para assistir aos vídeos mudam e… você realmente acredita na perenidade do digital? Eu duvido bastante.

Pra não dizer que crianças com câmeras, hoje, já colocam tudo no Youtube. Existe toda uma cultura do imediatismo, do ‘gravei, agora tenho que postar mesmo que esteja tosco’, o que faz com que todo e qualquer vídeo caseiro vá parar na internet. Não vou bancar o Andrew Keen e dizer que ‘vídeos caseiros estão matando a arte’ – é ÓBVIO que dar às pessoas o poder de produzir e divulgar seu conteúdo, junto com o potencial de audiência, é sensacional! Mas, convenhamos, dê uma câmera e acesso à internet a uma criança que, justamente por ser criança, não tem muita noção de como funciona o mundo, e você vai ver todos aqueles vídeos que na minha e na sua época eram privados (sim, vai dizer que você nunca gravou uma fita cantando por cima do karaokê da Xuxa? vai dizer que você nunca descobriu o poder dos botões rec e pause em montagens incríveis de áudio ou vídeo? Vai dizer que hoje você não morre de vergonha desse material e dá graças a deus por ele ter se perdido no tempo?

Agora imagina se você tivesse postado essas gemas, sensacionais para uma criança de 10 anos mas altamente constrangedoras pro adulto (especialmente para o adulto que essa criança foi) na internet?

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Não que crianças não devam fazer vídeos. O vídeo de Jeremiah McDonald é a prova CABAL de que devem. Tenho outras provas, como o curso de animação em Super8 que fiz em 1986 e que teve uma taxa de ‘crianças que viraram cineastas ou coisa parecida’ acima da média, ou as escolas que estimulam a produção de multimídia por seus alunos e, como resultado, têm alunos capazes de solucionar problemas pensando criativamente (e passando em todas as provas ‘caretas’ também). Criança PRECISA experimentar com vídeo. Até porque, se for uma pequena cabecinha brilhante como a desse moleque, pode gerar um dos vídeos mais formidáveis da internet atualmente, tão povoada de vídeos caseiros que, outrora, ficariam restritos – sabiamente – apenas ao âmbito privado.

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