Freaks and Geeks (ou “eu e meus amigos e uns amigos deles”)


Aos 17 anos, eu ainda não sabia se era a nerd meio lerdinha, que em vez de jogar handebol participava das olimpíadas da escola jogando xadrez, que participava de torneios de matemática e era muito zoada pelas próprias amigas por ainda me relacionar com o pessoal UBER GEEK (numa época em que nem ‘nerd’ nem ‘geek’ eram termos muito populares), ou se era a descoladinha de all-star rabiscado, mochila rabiscada, camisa xadrez, cabelo pintado de verde e, oh, yeah, sujeita a fofocas do tipo “ah, eu soube que você foi pra França pra seu filho lá“. Peraí. Que filho? No entanto, passei em 2º lugar para a faculdade. De Belas Artes, verdade, mas pra faculdade.

(sobem os créditos)

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Bad Reputation – Joan Jett
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Amigo sabe das coisas. “Lia, você tem que ver ‘Freaks & Geeks‘”. Não botei muita fé, nunca fui de acompanhar séries e muito menos cultuar as já finadas – mas o rapaz, leitor antigo, tem crédito de sobra na praça. Vamos lá. E fora o fato de meio mundo achar a Linda Cardellini a minha cara (o nariz arrebitado, o rodamoinho no meio da testa? Vai saber!), tirando toda a questão familiar (ora, não existe família mais cool que a minha!!), me identifiquei com a Lindsay a ponto de me apegar a uma finada série de tv aos 30 anos de idade. Não tem gente que bate no peito com orgulho e diz “Eu sou idêntica a Miranda, de Sex & The City”? Pois eu bato no peito com um certo constrangimento e digo “A Lindsay, cara, era eu”.

O amigo tá com crédito até as próximas três encarnações.

Então toda vez que Joan Jett começa a cantar ‘Bad Reputation’, dá um arrepiozinho de “ok, desliguem os telefones, estou entrando numa máquina do tempo para rever mais um pedaço da minha adolescência (que, ainda bem, passa) e já volto”.

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Meus amigos grunges, minha amiga uber geek que hoje faz teatro, meu irmão mais novo, que eu amo amo amo de paixão, mas não perdia uma oportunidade de sacanear o menino…

Mesmo as cenas das traumáticas partidas de dodgeball, que na série são mostradas como esporte de menino… deus, me lembro como se fosse hoje daquelas infames partidas de queimado!

Claro, eu não sou especial: todo mundo que já foi adolescente, minto, todo mundo QUE IMPORTA que já foi adolescente já passou por aquilo tudo: a olimpíada de matemática, o porradobol, o constrangimento no vestiário, os amigos maconheiros, a banda que durou três ensaios, a possibilidade aparentemente real de nunca fazer sexo na vida (porque as garotas não te olham, porque os caras são todos uns bundões e você espera pelo ‘cara certo’), o amigo esquisitão jogador de RPG, a sensação de não se encaixar em nenhuma turma.

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Podia ser apenas mais uma série de tv que não passou da primeira temporada, mas… os motivos que fizeram com que Freaks & Geeks não tivesse passado da primeira temporada é que a fazem especial. Fala-se abertamente de drogas, sexo, álcool e as melhores bandas do universo (gente, que trilha sonora é aquela??), as famílias todas têm um grau de disfuncionalidade (obviamente as famílias mais normais e mais caretas são as mais estranhas), os geeks levam porrada, as tiradas ultrapassam o limite da acidez, tem personagem deficiente mental sendo sacaneado, tem aspirante a comediante judeu… era tão bom e tão real que, num mundo onde turmas de adolescentes ricaços de Beverly Hills fazem o maior sucesso durante décadas, com direito a spin off e reedição, não podia mesmo dar certo.

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Todo mundo ali cresceu e virou cool pra caramba: Linda Cardellini virou a Velma (musa geek, ou não?), James Franco virou Duende Verde, Jason Segel e Seth Rogen continuaram trabalhando com Judd Apatow (Seth Rogen e James Franco estão com ele até hoje, aliás) e teve uma galera em Superbad, o que leva a crer seriamente que ‘Freaks and Geeks’ foi uma escola e tanto para elenco e produção – só gente boa dando voz aos… aos… a nós… aos… bem, tu entendeu.

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A cada episódio que passa, me dá uma dorzinha no coração de chegar mais perto do final. Porque, apesar de nunca ter visto ‘Lost’, não ter acompanhado ‘Friends’ e de ter passado bons trinta anos da minha vida tentando me encaixar em alguma turma, finalmente achei uma série onde todo mundo me entende.

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